segunda-feira, 28 de abril de 2008

Líderes patronais se unem contra o governo e os entraves que emperram o Pará

ADRIANA NICACIO
Isto É Dinheiro

Há algo de preocupante no Pará. O setor produtivo do segundo maior Estado em área do País, um dos mais ricos em recursos naturais, está atormentado e resolveu se levantar contra a governadora Ana Júlia Carepa e os órgãos ambientais. Apenas nos dois primeiros meses do ano, a indústria da madeira perdeu 656 empregos com carteira assinada. A indústria de transformação registrou saldo negativo de 677 demissões, a construção civil e a agropecuária também tiveram queda nos empregos formais nesse período. O setor de alimentos e bebidas manteve a tendência e, nos últimos 12 meses, a indústria cresceu apenas 2,8%, colocando o Pará em 11º lugar entre as 14 regiões pesquisadas pelo IBGE. Isso dá uma idéia do humor dos empresários e trabalhadores paraenses. E faz parte dos motivos que levaram 94 entidades de classe a se unir no movimento "Alerta Pará".
"Queremos atrair investidores, mas há uma resistência grande", disse José Conrado Santos, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Pará. "Nos últimos meses, perdemos fábricas de leite em pó, de móveis, de calçados e de aproveitamento de resíduos de madeira."
Os empresários reclamam da ausência de incentivos fiscais. Ana Júlia assumiu o governo sem concessões e assim o manteve. Segundo Conrado, empresas como Vale e Alcoa têm projetos minerais de US$ 20 bilhões, mas o Estado perde a oportunidade de novos negócios que essa expansão atrairia, por falta de incentivos.
O presidente da Federação do Comércio, Carlos Tonini, diz que no setor atacadista, por exemplo, os comerciantes paraenses são obrigados a pagar 17% de ICMS pela mesma mercadoria que os vizinhos Maranhão e Tocantins cobram 1%. "Não tenho preço para competir com eles", desabafa. A governadora, contudo, alega que os incentivos não distribuíam renda e que muitas empresas perderam o benefício por comprar produtos de mão-deobra escrava. "Criamos o Fundo de Desenvolvimento Sustentável, que tramita na Assembléia", disse Ana Júlia, por meio de nota oficial.

ANA JÚLIA CAREPA: sem uma política de incentivos, a governadora é alvo de críticas generalizadas

O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária, Carlos Xavier, diz que o agronegócio é o setor mais ameaçado. No momento, há 200 fazendas invadidas e 49 pedidos de reintegração de posse que o Executivo não cumpre. "É a banalização do crime", reclama. Os agropecuaristas denunciam lentidão na liberação de planos de manejo, demora na concessão de licenças ambientais - há mais de seis mil processos parados - e ainda no plano de macrozoneamento ecológicoeconômico, que não foi implementado. Por falta dessa regulamentação, há 20 milhões de hectares de áreas degradadas que não podem ser usadas.
"A Secretaria de Meio Ambiente licenciou três milhões de metros cúbicos em 2007", responde a governadora. Mas os empresários mantêm a lista de insatisfações e acrescentam a falta de segurança. No mesmo Estado em que mulheres ficam presas com homens, o bispo dom José Luiz Azcona, da ilha de Marajó, está ameaçado de morte por denunciar o narcotráfico e a prostituição infantil.

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