segunda-feira, 12 de maio de 2008

Para facilitar o Eiia/Rima, Cargill pode suspender compra de soja regional


Gisele de Freitas
Repórter


A Cargill reuniu a imprensa na última quinta-feira (8) para explicar o processo de elaboração do Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto ao Meio Ambiente (EIA/RIMA) do terminal graneleiro da Vera Paz, em Santarém. De acordo com o diretor coorporativo da empresa, Afonso Champi, o estudo será entregue ao Ibama ainda em 2008 e não será apenas local, mas sim abrangendo a região. O diretor respondeu a questões sobre impacto ambiental e compensação aos danos causados ao meio ambiente, plantação de soja na região, sítio arqueológico que existia no local em que a empresa se instalou e a água de lastro dos navios que seria jogada no rio Tapajós.
De acordo com Champi, todas estas questões serão abrangidas pelo estudo e a Cargill poderá tomar algumas atitudes para diminuir os impactos assim que estiver consciente do prejuízo que foi causado.
A Cargill se comprometeu em não comprar soja de áreas desmatadas por dois anos, prazo que os grupos de defesa do meio ambiente tentam prorrogar. Para Champi a moratória termina em julho deste ano e a decisão de prorrogar este tempo não depende da empresa, mas do TNC e a questão poderá ser revista.
Mas não é que pensa o padre Ediberto Sena, da Frente de Defesa da Amazônia (FDA). O religioso afirma que os membros da FDA estarão atentos ao estudo para saber se ele vai se dar de forma verdadeira e se englobará todos os itens considerados fundamentais. Caso estes requisitos não sejam atendidos a Frente poderá entrar com uma representação judicial.
Segundo Champi, o EIA/RIMA da Cargill não será um estudo apenas local, mas abrangerá outros pontos, como a BR 163, comunidades afastadas da cidade, Mojuí dos Campos, por exemplo, e a cidade de Belterra. A equipe que está elaborando o estudo já teria inclusive visitado estes locais. O diretor da empresa afirma que a Cargill nunca se negou a fazer um estudo, mas que antes era necessário saber que tipo o governo queria. Ele ainda afirmou que a empresa fez um Plano de Controle Ambiental (PCA), que contou com mais de 500 laudas e que muitos pontos do mesmo serão reativados no EIA/RIMA. "Nós precisávamos que o governo nos dissesse que tipo de estudo queria. Não podemos ligar para a nossa matriz e dizer que temos de fazer um estudo diferente a cada dia e na época da instalação o governo estadual aceitou o PCA" destacou Champi.
Uma das principais críticas que a empresa recebe da população santarena é em relação à praia de Vera Paz, que deixou de existir no momento em que a Cargill se instalou no local. Em relação ao assunto Champi afirmou que antes da empresa avaliar o que pode fazer para compensar os prejuízos vai esperar pela conclusão do estudo, para saber se houve impacto, qual foi e o que pode ser feito. "Sinceramente se me perguntar agora o que pode ser feito para compensar o impacto na área da praia eu não sei dizer. Precisamos primeiramente analisar o estudo e ver qual a melhor forma. Não adianta causarmos um impacto num lugar e fazer a compensação em outro que não tem nada haver" destacou.
Em relação ao sítio arqueológico que existiria no local em que a empresa fio instalada, Sérgio Luís Pompéia, diretor da empresa que a Cargill contratou para fazer o EIA/RIMA afirmou que o sítio também estará englobado no estudo, mas a empresa acredita que se o local fosse mesmo um sítio deveria estar organizado como tal, como prevê a legislação. De acordo com Pompéia, na época da instalação da empresa não havia esta organização. A empresa também não tem um plano de compensação para o sítio arqueológico e vai esperar o estudo para analisar os prejuízos e compensações que podem ser feitas.
Outra polemica que envolve a instalação da Cargill em Santarém é o incentivo que foi dado para que produtores do sul do país se instalem na região, que teria aumentado o êxodo rural, o desmatamento e ainda a questão dos agrotóxicos que, colocados na lavoura, acabariam por prejudicar as plantações na região. " Há rumores de que a saída das famílias do campo tenha inchado as cidades, mas os números do IBGE não comprovam que o êxodo rural tenha sido tão alto", rebateu Pompéia.
Para ele, a vinda do porto é mesmo um incentivo para a plantação de soja, mas os produtores influenciam muito pouco no desmatamento. Pompéia garantiu que o EIA/RIMA vai abordar o desmatamento causado pelos produtores bem como a influência dos pesticidas que são jogados nas lavouras.
Segundo o diretor Afonso Champi, a Cargill só compra soja de produtores cadastrados no projeto The Nature Conservancy (TNC), que controla a produção do grão em áreas que não sejam de florestas. Ele garante que muitas vezes a Cargill se recusa a comprar de outros produtores que levam o produto até a empresa, mas não estão cadastrados. Segundo Champi dados da prefeitura e do IBGE revelam que há cerca de 500 mil hectares já degradados para a plantação na região oeste paraense e que por ano a empresa compra no máximo a produção de 25 mil hectares da região.
Champi negou os boatos de que a Cargill tem deixado de receber soja agricultores locais e que estaria comprando menos deles para tentar diminuir o impacto ambiental. "Nós nunca viramos as costas para os agricultores, promovemos reuniões em que os mesmos são convidados a participar. A última foi em março deste ano. Convidamos 300 e só compareceram 40. Não podemos esquecer que já havia produtores aqui antes de chegar a Cargill, mesmo assim vamos entrar em contato com o pessoal do TNC para que atendam mais agricultores e veja o que falta para que eles entrem no projeto" garantiu Champi.
Outra polêmica que envolve a empresa diz respeito à água de lastro dos navios. Os navios de grande porte quando estão vazios enchem os compartimentos com água do oceano para poderem navegar. Há uma lei internacional que obriga os mesmos a pararem antes de entrar nos rios e despejarem a água no próprio oceano, para que os rios não sejam contaminados com seres marinhos, que podem acabar prejudicando o ecossistema local. Champi afirma que a empresa cumpre três procedimentos diferentes para descarregar a água de lastro, de acordo com a legislação e que a água do Tapajós também poderá entrar no estudo. "A água não é simplesmente despejada no rio, nos cumprimos os procedimentos legais" destacou.
Champi afirmou que a empresa quer ouvir a população, inclusive quem é contra as instalações na cidade e que promoverá audiências públicas, como determina a lei, antes de enviar o relatório ao Ibama.

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