domingo, 2 de novembro de 2008

Globalização social

Lúcio Flávio Pinto
Editor do Jornal Pessoal e articulista de O Estado do Tapajós

Jacques Attalli se tornou uma referência na anti-economia, uma via alternativa à ciência conservadora, quando o li, no início da década de 70. Nada sugeria que pudesse sair da redoma intelectual, que era o seu forte (como, de resto, era a nossa perspectiva de estudantes em relação a outros intelectuais, como Fernando Henrique Cardoso). Mas ele conseguiu a proeza de ser um assessor de peso junto ao socialista François Mitterrand e o conservador Nicolas Sarkozy. E presidir a terceira maior associação de microcrédito do mundo, na França.
Vendeu a alma ao demônio? Não sei. O que sei é que ele penetrou mais fundo do que qualquer outro analista da crise financeira atual que li. Foi à causa mais profunda do fenômeno: “Temos uma globalização dos mercados, mas não uma globalização do estado de direito. O mercado não funciona (bem) sem estado de direito. E vemos isso no Brasil. Em certas regiões e cidades do Brasil, não há estado de direito. O mundo é isso: um gigantesco mercado sem estado de direito. O mais forte ganha”.
A frase se aplica como luva à Amazônia em geral e ao Pará em particular. A máquina econômica que chega aqui é o último modelo do mercado mundial. Mas a carta dos direitos humanos é de antes da revolução francesa. É uma ignomínia. A atualização precisa ser por inteiro. Sem essa eqüidade, estaremos condenados ao empobrecimento em meio à barbárie.
O equilíbrio, entretanto, não pode ser estabelecido a partir de cima, por ato de força de uma entidade supranacional. Cabe-lhe impor a atualização dos direitos paralelamente ao avanço da frente econômica para que não haja seqüelas inomináveis nesse processo, como a escravização do trabalhador, a destruição da natureza, a concentração brutal da renda, a formação de guetos sociais e etc.
Attalli deu a dica. Espero que os “luas-pretas” da governadora, analisando-a com a atenção, joguem fora esse estandarte roto do Pará que criaram do nada: a “terra de direitos”. É um outdoor falso, que esconde a realidade sem enfrentá-la. Se diz sobre a inteligência de quem criou esse mote, é um desrespeito à inteligência de quem está fora da quadratura desse metafísico círculo virtuoso em que presume viver o governo.

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