quinta-feira, 24 de julho de 2008

Qualquer semelhança...

Campanha caolha de entidades e igrejas prega apenas a rejeição de candidatos com processos na justiça, mesmo que não haja sentença transitado em julgado, mas não dá um único conselho ao eleitor para que este rejeite nas urnas aqueles candidatos que compram voto e usam a máquina administrativa para desequlibrar o pleito eleitoral.

...Não é mera coincidência

Hoje de manhã, no bairro do Santissimo, houve equipe de limpeza e capinação atuando com seis meses de atraso. É a primeira vez no ano que os moradores viram gente da Seminf trabalhando por lá.
A limpeza foi frenética, tal qual a presença nesses ruas de carro de propaganda eleitoral volante.

Acusados de homicídio absolvidos em júri popular

Por maioria de votos, o Conselho de Sentença do Tribunal do Júri da 6ª Vara Penal absolveu os réus Mário Barral de Azevedo, Francivan Rodrigues Assunção e Paulírio dos Santos Sousa da acusação de terem matado o pedreiro Cleudivan Rocha dos Santos, há 4 anos, próximo ao posto da UBAM. O júri terminou a uma hora da madrugada, após longos debates entre os defensores públicos Edernilson Barroso e Alessandro Oliveira e os promotores públicos Andressa Pinheiro e Danyllo Colares, sob a presidência do juiz Alessandro Ozanan.
A tese da defesa, que foi vitoriosa, foi a de que não havia provas consistentes no inquérito policial contra os três acusados. Os réus sustentaram a informação de que admitiram o crime na delegacia sob tortura, que teria sido comandada pelo delegado Jardel Guimarães. Segundo eles, o delegado teria aumentado o nível de tortura após saber que os três não haviam votado nele para vereador nas eleições daquele ano. Jardel foi candidato a vereador em 2004 e o crime ocorreu poucos dias depois do resultado das urnas.
A defesa sustentou que a vítima foi atacada por uma gangue composta de mais de 20 jovens, mas os três acusados não fariam parte dela e teriam apenas tentando ajudar o rapaz esfaqueado e acabaram sendo acusados do crime por já terem passagens pela polícia por outros delitos.
Quadrilha - Por outro lado, os jurados entenderam que apesar de não terem cometido o homicídio, os réus faziam parte de um bando e concordaram com o MP, condenando os réus por esse crime, que prevê a pena máxima de 3 anos. A pena estipulada pelo juiz para esse crime foi mínima: um ano de reclusão e em alguns casos, transformada em pena alternativa.
Como dois dos réus já passaram mais de três anos presos a pena já teria prescrito, o que fez o magistrado expedir Alvará de Soltura para estes presos. Mário Barral deve ser liberado hoje, mas ainda responde a um processo de roubo na 4ª Vara Penal, enquanto Francivan Assunção ainda deverá ficar preso por ter sido condenado a seis anos de prisão por outro processo que respondia na 6ª Vara Penal. Paulírio Sousa teve sua pena transformada em suspensão condicional do processo por dois anos, período em que se não se envolver com outro problemas receberá perdão judicial.
Inusitado – Um fato inusitado ocorreu durante a votação dos jurados. Quando acabou a votação em relação ao 1º acusado, Paulírio Sousa, que segundo o MP teria sido o autor da facada que matou Cleudivan e que acabou sendo absolvido do crime de homicídio pelos jurados, a dupla de promotores decidiu pedir que os jurados votassem da mesma forma em relação aos outros réus, mudando sua posição sobre o caso.
Os promotores alegaram que essa posição estava sendo tomada para evitar que fosse cometida injustiça em relação aos dois outros réus que figuravam como co-autores do crime, sem que houvesse contra eles a confirmação de terem esfaqueado a vítima. Com a absolvição do primeiro réu, cairia por terra a tese inicial do MP. Os jurados acataram a proposta e aplicaram a mesma votação em relação aos outros dois réus.
(Fonte: 6ª Vara Penal)

Pará é o que tem menores índices de redução de malária

No Amazônia:

De todos os Estados da Amazônia Legal, o Pará ainda é o que apresenta os menores índices de redução de malária. São 15,5% contra 47% de Rondônia, onde ocorreu a maior redução nos cinco primeiros meses do ano, segundo dados do Ministério da Saúde. 'Temos características específicas que favorecem a proliferação da doença e dificultam o controle. O Estado é porta de entrada e saída do País nessa região e essa movimentação favorece a transmissão da doença', explicou o sanitarista Reinaldo Braun, especialista em doenças tropicais e coordenador do Núcleo de Endemias da Secretária de Estado de Saúde Pública (Sespa).
Apesar da discrepância em relação aos níveis de redução nos outros sete Estados da Amazônia Legal - apenas a metade do percentual registrado em Tocantins, penúltimo colocado na lista do Ministério da Saúde, com redução de 30,1% - Braun aponta uma diminuição considerável de áreas consideradas de alto risco de contaminação dentro do Estado nos últimos anos. Segundo ele, até o final do ano 2000, o Pará tinha 57 municípios nessa situação. No ano passado eram apenas oito.
'Acredito que esse número será ainda menor até o final deste ano. Mesmo menos estabilizado que os outros estados, a redução dos casos da doença é uma tendência que estamos acompanhando', afirmou. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), uma área é considerada de alto risco quando, em um ano, ocorrem mais de 50 casos da doença por mil habitantes.
No Pará, ainda estão nessa situação as cidades de Anajás, Pacajá, Jacareacanga, Caxueira do Piriá, Anapú, Itaituba, Prainha e Goianesia.Em toda a Amazônia Legal, onde se concentram 99,9% dos casos de malária no Brasil, de janeiro a maio deste ano houve uma queda de 34,8% no número de infecções em relação ao mesmo período do ano passado.

Candidatos convocados para processo de desempate do concurso da Seduc

A Secretaria de Estado de Administração (Sead) divulgou nestaterça-feira (22), no Diário Oficial do Estado, a relação dos candidatosconvocados para o processo de desempate do concurso público C-126, daSecretaria de Estado de Educação (Seduc). A Sead também torna público o resultado final da investigação criminal esocial dos candidatos aprovados no concurso público C-120 parapreenchimento de vagas em cargos de níveis superior e médio do Centro dePerícias Científicas Renato Chaves.
Serviço - Os candidatos convocados para o concurso da Seduc devemapresentar cópia autenticada da carteira de identidade ou de documentosimilar. Também será necessária cópia autenticada, quando for o caso, dacertidão e/ou declaração de tempo de serviço público.Para apresentar os documentos, o candidato deve preencher um formuláriodisponibilizado no site www.unama.br e entregá-lo na central deatendimento do campus Alcindo Cacela da Universidade da Amazônia(Unama), na avenida Alcindo Cacela, 287, Umarizal, no período de 23 a 29de julho de 2008. Mais informações no site www.ioepa.com.br, edição31.216.
(Fonte: Agência Pará)

Mega acumulada

Ninguém acertou as dezenas da Mega Sena. As dezenas sorteadas ontem foram 02 21 27 29 32 38.
O próximo sorteio deve pagar cerca de R$ 52 milhões.

Novo horário faz 30 dias

Há exatos 30 dias entrava em vigor o novo fuso horário em Santarém e região Oeste do Pará, que tiveram os relógios adiantados em uma hora.
Mas até agora os bancos continuam abrindo e fechando em horário diverso ao fuso oficial de Brasília.

Candidatos convocados para processo de desempate do concurso da Seduc

A Secretaria de Estado de Administração (Sead) divulgou nestaterça-feira (22), no Diário Oficial do Estado, a relação dos candidatosconvocados para o processo de desempate do concurso público C-126, daSecretaria de Estado de Educação (Seduc).
A Sead também torna público o resultado final da investigação criminal esocial dos candidatos aprovados no concurso público C-120 parapreenchimento de vagas em cargos de níveis superior e médio do Centro dePerícias Científicas Renato Chaves.
Serviço - Os candidatos convocados para o concurso da Seduc devemapresentar cópia autenticada da carteira de identidade ou de documentosimilar. Também será necessária cópia autenticada, quando for o caso, dacertidão e/ou declaração de tempo de serviço público.Para apresentar os documentos, o candidato deve preencher um formuláriodisponibilizado no site www.unama.br e entregá-lo na central deatendimento do campus Alcindo Cacela da Universidade da Amazônia(Unama), na avenida Alcindo Cacela, 287, Umarizal, no período de 23 a 29de julho de 2008. Mais informações no site www.ioepa.com.br, edição31.216.

Empresas estudam um consórcio de curauá com paricá numa área de reflorestamento

O Grupo Concrem, responsável pela maior área de reflorestamento de paricá no Brasil, iniciou conversações com a Pematec para a implantação de um consórcio dessa espécie com o curauá, considerada a melhor fibra natural, no município de Pacajá, no Pará. Na última sexta-feira (18), o diretor da Pematec, Alberico Pasquetto, recebeu em Santarém o engenheiro florestal do Grupo Concrem, Alessandro Lechinoski, para o primeiro contato entre as duas empresas e traçar um plano de relacionamento para implantação de curauá no município de Pacajá.
Pioneiro na Amazônia com madeira tropical reflorestada em grande escala, o Grupo Concrem busca implantar novas plantações em áreas de assentamentos que estão localizados em torno de suas instalações. O ciclo do plantio do paricá é de seis anos para corte. Durante este período o Grupo pretende fazer um consórcio de curauá com paricá para fomentar mais renda aos agricultores rurais, já que o ciclo do curauá é de apenas um ano e tem mercado garantido. Segundo Alessandro Lechinoski, as áreas de assentamento para cada produtor são de cinco hectares, totalizando 85 hectares para 17 famílias. O engenheiro florestal Cristovam Sena, da Emater, disse na reunião que, no cultivo do Curauá para agricultura familiar, o melhor sistema indicado é de no máximo dois hectares por família. Portanto, nessa primeira fase a estimativa seria de 85 mil mudas de curauá para todo o assentamento, que seria de 34 hectares disponíveis para manejo do curauá.
A Pematec informou que está projetando uma máquina desfibradeira mais simples e de uso próprio por família. Isso significa um salto na viabilidade dos projetos de implantação de curauá. Hoje, um conjunto tradicional de desfibramento composto por uma máquina com duas bocas, motor a diesel ou gasolina e todo suporte de apoio, utilizado como central de desfibramento por vários produtores, está orçado em torno de R$ 13 mil. Com essa nova máquina com dimensões menores e potência de giro reduzido, o valor ficaria em torno de R$ 1.500,00.
(Fonte: Pará Negócios)

Morosa, BR-163 ainda faz papel de elo com passado

Mauro Zanatta
Valor Econômico

Na manhã de uma quarta-feira de junho, no coração da Amazônia, o madeireiro Rusever Oliveira, 43 anos, comanda o ritmo frenético da empilhadeira que separa dezenas de toras de espécies nobres da região. No pátio de sua serraria, em Castelo de Sonhos, distrito de Altamira (PA) de 10 mil habitantes cortado pela BR-163, os troncos derrubados ilegalmente secam sob o sol abrasador e um grosso poeirão. As encomendas vêm de toda parte. Um caminhoneiro de Maringá (PR) reclama do atraso no pedido e um fazendeiro consulta o preço de algumas tábuas. Naquele dia, o metro cúbico do ipê-champanhe era comprado a R$ 150 e vendido a R$ 350 por Rusever.
A 23 quilômetros dali, longe dos negócios madeireiros, o ex-garimpeiro gaúcho Telmo Davies, 57 anos, acabara de estender no varal de casa retalhos de carne bovina cedidos por um fazendeiro vizinho. Rodeado por uma pequena roça de mandioca e meia dúzia de galinhas, Davies ocupa sozinho o primeiro lote do Assentamento Brasília, criado pelo Incra há três anos. Ali, tem apenas a companhia do rádio de pilha e de dois vira-latas. Sem energia elétrica nem água, vive com R$ 150 do aluguel de uma casa em Castelo. Também não tem o título de posse da terra. Cesta básica, bolsa-família e aposentadoria nunca beneficiaram o migrante.
Mais adiante, em Novo Progresso, município de 36 mil habitantes a 150 km no eixo norte da BR, a comerciante Rodemeire de Camargo, 42 anos, sofre, no único e desequipado hospital da cidade, para conseguir o diagnóstico da doença do filho de 16 anos. Para obter um exame de sangue mais preciso, teria que encarar 715 km da quase intransitável rodovia até Santarém ou voltar 600 km até Sinop (MT), trafegando por 360 km em uma estrada recheada de buracos de todos os tamanhos e profundidades. Desde o primeiro solavanco na rodovia Cuiabá-Santarém, ainda na área urbana de Guarantã do Norte, a 50 km da divisa do 'nortão' de Mato Grosso com o sudoeste do Pará, a precariedade da infra-estrutura, dos serviços públicos e a ausência quase total do Estado refletem a situação de abandono da região. A dura realidade dos dez municípios cortados pela BR-163, onde 90% do território é ocupado por reservas florestais, produz um forte contraste quando confrontada com os planos do governo para incentivar o chamado 'desenvolvimento sustentável' da Amazônia e brecar o desmatamento ilegal.
Ao longo dos 360 km de crateras e poeirão da BR-163 entre Guarantã do Norte e Novo Progresso, percorridos pelo Valor, é possível ver extensas áreas de pastagem, fazendas cheias de gado nelore, imensas castanheiras queimadas em pé e um intenso vaivém de caminhões de oito eixos abarrotados de toras de madeira. E muito abandono.
Em dois dias de viagem, à exceção de uma barreira fiscal próxima à base aérea da Serra do Cachimbo, a reportagem não viu vestígios de presença do Poder Público. Nenhum agente ou veículo oficial foi avistado nesse longo trecho não-pavimentado da rodovia aberta nos anos 70 pela ditadura militar para forçar a ocupação do território.
Novo Progresso está na lista dos 36 municípios campeões do desmatamento ilegal, onde a derrubada da mata está embargada. No início de 2006, o governo federal lançou um ambicioso plano que seria o 'novo paradigma de desenvolvimento sustentável' para a Amazônia.
O 'Plano BR-163 Sustentável', que inclui 73 municípios da área de influência da rodovia, prometia amenizar a precariedade da vida dos moradores ao conjugar asfaltamento da estrada com ações de ordenamento territorial, infra-estrutura, fomento de atividades econômicas sustentáveis, melhoria dos serviços públicos, inclusão social e fortalecimento da cidadania. Dois anos e meio depois, o plano ainda não teve força para virar realidade. E isso apesar do apoio obtido em 16 audiências públicas realizadas entre 2004 e 2005 com moradores da região, lideranças indígenas, movimentos sociais, ONGs e autoridades de todos os níveis. A resolução de graves problemas sociais, desde a escassez de emprego até a precariedade dos serviços sociais e a infra-estrutura incipiente, ainda parece utopia. '
Não é o ritmo que a sociedade quer', admite o coordenador do comitê gestor do plano, Johaness Eck. 'Tínhamos a expectativa de funcionar mais rapidamente, mas a ausência prolongada do Estado nos obrigou a fazer um trabalho de base, de ordenamento territorial', afirma Eck, também subchefe-adjunto de Políticas Governamentais da Casa Civil da Presidência da República. O próprio comitê é sinal da morosidade do plano. Até hoje, os membros não foram todos indicados e nenhuma reunião ordinária aconteceu. 'Estamos muito aquém das ações previstas, e a lentidão da pavimentação tem afetado a credibilidade do plano', reconhece Júlio Miragaya, ex-secretário-executivo do plano e coordenador de Planejamento Territorial do Ministério da Integração Nacional.
A pavimentação da BR, orçada em R$ 1,1 bilhão até 2011, é prioridade do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). De avanços substanciais, o governo aponta a criação de 6,8 milhões de hectares de unidades de conservação ao longo da BR e o início do asfaltamento de dois trechos de 20 km pelo Exército até o fim do ano. Ocorre que parte das unidades não tem, como previsto, gestores do Instituto Chico Mendes e as obras na BR só começaram, timidamente, no fim de junho. Houve atraso na liberação de verbas para contratação de pessoal e material de apoio ao Exército. Como as chuvas amazônicas começam em novembro e só dão trégua em junho, resta pouco tempo para avançar. 'O plano está quase na estaca zero. O Incra não fez a regularização fundiária e as ações sociais ainda não foram implementadas', reconhece Luiz Antonio Pagot, diretor-geral do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT).
A promessa do Incra de determinar as coordenadas geográficas (georreferenciamento) de 7,7 milhões de hectares nas margens da estrada neste ano deve atrasar mais o início do processo de regularização fundiária. Assim, os assentamentos de reforma agrária seguem sem a documentação de posse, o que impede o acesso dos moradores aos serviços básicos. 'É sofrido aqui. Não tem água nem luz, que dirá posto de saúde. Se quebrar o braço, tem que ir pro Guarantã [a 210 km]', diz Telmo Davies, que ficou seis meses acampado à beira da BR antes de ganhar o lote de 20 hectares em Castelo.
A situação piorou quando o Ministério Público Estadual interditou uma centena de assentamentos por irregularidades fundiárias e denúncias de corte ilegal da floresta. Davies confirma: 'De noite, é caminhão o tempo inteiro. Não pára faz três anos. Só tem ´torero´, mas não tiro a razão de quem vende [a madeira]. A pessoa tem sete filhos para criar e faz o quê? O Incra jogou a gente aqui sem nada. Precisa o Ibama vir aqui'.
A grilagem segue corriqueira, gerando violência, pistoleiros e mortes pela posse da terra. O governo admite a necessidade de 'implantar o Estado de Direito na região', dada a dimensão do problema. Mas a instalação de delegacias da Polícia Federal e postos da Polícia Rodoviária na região ainda está no campo das promessas. 'Aqui a pistolagem manda', diz o catarinense Cleo Almeida Becker, pioneiro de Castelo de Sonhos. Há 16 anos no lugar, dono de uma pousada, ele está de malas prontas. 'Vou vender tudo e ir embora porque esse asfalto nunca vai chegar'. Para piorar, foi suspensa a aprovação de novos planos de manejo na região por falta de regularização fundiária. O Ibama repassou a ação à secretaria estadual do Pará. A medida é criticada pelos madeireiros. 'Temos trabalhado na ilegalidade porque não temos os planos de manejo. Tem que comprar nota para transportar a madeira porque o plano depende de comprovar a posse da terra', diz Rusever Oliveira, presidente de uma associação de 24 madeireiras dos distritos de Castelo e Cachoeira. Denúncias de corrupção dos fiscais são comuns.
O Ibama também tem dificuldades para criar o chamado Distrito Florestal Sustentável da BR-163, área de 16 milhões de hectares onde seria permitida a exploração de até 6 milhões de m³ de madeira segundo regras mais rígidas. 'Até agora só veio a parte ruim do plano, a repressão', diz Adriano Ferreira, secretário-executivo do Sindicato das Madeireiras do Sudoeste do Pará (Simaspa). 'O governo precisa incentivar o manejo aprovando os planos. Ele ataca a conseqüência, e não a causa do problema, que é a ausência de Estado com infra-estrutura e regularização fundiária'.
Aberta em 1972 para 'integrar' a Amazônia ao Brasil, a BR-163, que liga Cuiabá (MT) a Santarém (PA), tem 1.780 km e atravessa uma das regiões mais ricas do país em recursos naturais, potencial econômico e diversidade étnica e cultural. No eixo da rodovia, há áreas de floresta amazônica, cerrado e zonas de transição, além das bacias hidrográficas dos rios Amazonas, Xingu e Tapajós. Por isso, o plano sustentável do governo Lula. A pavimentação da estrada não foi concluída: faltam 956 km entre Guarantã do Norte (MT) e Santarém. A obra pode facilitar o escoamento da produção agropecuária do norte de MT, pólo dinâmico de grãos e gado, pelos portos de Miritituba e Santarém. Asfaltada, a BR também pode encurtar a distância dos produtos eletroeletrônicos de Manaus para as regiões consumidoras do Sul.
Governo promete acelerar obras e regularizar terras
Passados dois anos e meio do lançamento do 'Plano BR-163 Sustentável', o governo admite problemas e atraso no cronograma das ações, mas promete acelerar as obras, autorizar os planos de manejo da floresta e regularizar a posse das terras na região. O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, diz que, até agosto, serão lançados os editais para 50 planos de manejo dentro das florestas nacionais e reservas extrativistas. 'Nas unidades de conservação, vamos repassar os planos do Ibama para o SFB [Serviço Florestal Brasileiro] dentro do conceito de gestão das florestas públicas para produção sustentável', disse ao Valor.
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, anunciou no início de julho, em Novo Progresso (PA), uma força-tarefa de 120 funcionários do Incra e do Exército para mapear 7,7 milhões regularizar a posse de três mil imóveis em quatro municípios na região da BR. 'Não podemos mais olhar para esta terra como se só existisse grileiro ou desmatamento: aqui tem trabalho, tem gente que trabalha', afirmou Cassel. O ministro esclareceu que uma medida provisória permitirá a venda direta de áreas com até 1,5 mil hectares na Amazônia Legal.
'O Incra já sabe onde estão as terras da União, do Estado e o que é privado. Falta entrar nas glebas, medir e regularizar', disse o presidente do Incra, Rolf Hackbart. O coordenador do comitê gestor do plano e subchefe-adjunto da Casa Civil, Johaness Eck, afirma que ter havido avanços com a criação de unidades de conservação, o zoneamento ecológico-econômico (ZEE) na região. 'Tivemos que alterar a lei para permitir zoneamento por região', diz. 'Temos ganhos de ordenamento fundiário que não são realidade porque precisamos de mais velocidade'. Segundo ele, o problema com o distrito florestal decorre da necessidade de criação de uma lei de gestão e do Serviço Florestal Brasileiro (SFB). Para ele, questões de saúde, segurança e fiscalização serão resolvidas com o avanço da pavimentação da BR. 'A Polícia Rodoviária vai para lá e as instalações de Ibama, Funai e Incra vão melhorar. Mas isso será ao longo do ano'.
O Ministério da Integração Nacional reconhece os problemas, mas pondera que o plano pôs a BR no centro das discussões. 'A bolsa-família chegou de forma bem ampla e houve mérito em ter colocado a BR no mapa das preocupações do governo', diz Júlio Miragaya, coordenador de Planejamento Territorial. Resta conferir a execução orçamentária dos R$ 350 milhões destinados ao plano em 2008. (MZ)
Asfalto alimenta sonhos de uma vida melhor na região
A BR-163 corta Guarantã do Norte ao meio. Mas a pavimentação acaba antes de cruzar toda a cidade do 'nortão' de Mato Grosso, quase na divisa com o Pará. Uma nuvem de poeira em suspensão, que impregna o último município no eixo da rodovia servido por asfalto, pode ser vista de longe. Guarantã do Norte tem poucas ruas e avenidas pavimentadas, mas obsessão pelo asfaltamento. Primeiro, porque ainda tem 120 quilômetros de vias urbanas em estado bruto. Depois, porque sofre enorme pressão nos serviços de saúde e assistência social com o atendimento de moradores dos lugarejos ao norte do eixo da BR-163.
Há também gastos prosaicos, como os R$ 20 mil anuais pagos a caminhões-pipa para molhar as ruas do centro. Nascida no interior paulista, a secretária municipal de Obras, Nívia Calzolari, sonha com o início da pavimentação da BR-163, agora a cargo do 9º Batalhão de Engenharia e Construção do Exército. 'Faz 30 anos que queremos virar essa página. O asfalto garante um mínimo de qualidade de vida, atrai empresas, empregos e gera oportunidades para segurar a juventude', diz a engenheira civil.
Ainda tímidas, as obras nos primeiros 20 quilômetros da rodovia de ligação Cuiabá-Santarém, entre Guarantã do Norte e a divisa com o Pará, começam a entusiasmar parte da cidade de 40 mil habitantes. No fim de junho, após muita demora na liberação das verbas, foram contratadas 80 pessoas (engenheiros, serventes, operadores de máquinas) para auxiliar os 120 soldados do BEC na construção. 'Vim para cá atrás de emprego. O asfalto vai melhorar a vida aqui', afirma o frentista Francisco Alves de Souza, recém-chegado da vizinha Matupá.
Do prefeito à associação comercial, todos apostam que a pavimentação pode tirar do atraso muitas localidades no eixo da BR. Com escolas e postos de saúde bem cuidados, 14 médicos e orçamento anual de R$ 27 milhões, Guarantã do Norte está melhor que suas vizinhas paraenses, mas ainda sofre com o principal problema da Amazônia: a pobreza derivada da falta de regularização fundiária.
'Dá até tristeza falar de reforma agrária aqui', diz o prefeito José Humberto Macedo (DEM). Primeiro executor do assentamento do Incra que deu origem a Guarantã do Norte, Macedo afirma haver uma área com 200 famílias, no interior do município, onde só três lotes têm título de propriedade. Na periferia da cidade, a prefeitura toca obras com verbas do Estado para construir banheiros nas casas precárias. A cidade conta 1,6 mil beneficiários do bolsa-família, o que significa R$ 100 mil mensais. 'Mas quando chove ou tem ação fiscal, as serrarias param e quem vive da derrubada acaba aqui', diz a secretária de Ação Social, Sandra Martins.
Em Castelo de Sonhos, distrito a 1,2 mil km da sede municipal, em Altamira (PA), a situação é surreal. Nenhuma rua tem asfalto, apenas um posto médico funciona precariamente e dois PMs fazem a lei no lugar de 10 mil habitantes. Dos madeireiros aos comerciantes e fazendeiros, todos temem a ação da Polícia Federal e do Ibama. (MZ)