terça-feira, 14 de outubro de 2008

Atenção, barões de Belém: agora, são os sul que vêm

Lúcio Flávio Pinto
Editor do Jornal Pessoal e articulista de O Estado do Tapajós


O grupo Leolar, de Marabá, chegou em grande estilo à capital do Pará. Primeiro com sua logomarca impressa na camisa dos jogadores do Águia, o primeiro time do interior a assumir a representação futebolística do Estado. A equipe marabaense de futebol realizou a façanha de ir em frente na última etapa da série C do campeonato nacional, enquanto os poderosos Paissandu e Clube do Remo ficavam para trás. A Leolar é o principal patrocinador do Águia.
O segundo marco do grupo econômico marabaense foi o lançamento do quarto jornal diário do Estado, o único que veio do interior para montar sua base na capital paraense, num inédito movimento migratório de dinheiro. O Público introduziu um componente novo na guerra travada pelos dois grupos monopolistas da comunicação no Pará: de um lado da família Maiorana, com O Liberal e o Amazônia Jornal, e do outro o deputado federal Jader Barbalho, com o Diário do Pará.
Num segmento de mercado com forte contaminação política, e, por isso mesmo, com tendência à bipolaridade de poder, Público vai tentar retomar a "terceira via", fechada quando A Província do Pará deixou de circular. O projeto do novo diário maturou com excepcional rapidez, destacada ainda mais pelo volume do investimento exigido e o grau de risco do negócio, que raros aceitaram encarar, apesar da tentação constante.
O grupo Leolar consolidou posições significativas no setor de comunicação antes de dar o grande passo para o jornal diário. Montou uma emissora de televisão e, em seguida, incursionou por um mercado com tradição, mas de resultados inconsistentes para os seus exploradores: o jornal gratuito. Livre completou 50 edições distribuídas em prédios residenciais e alguns pontos de comercialização. Tem 32 páginas, boa impressão, matérias diversificadas e tiragem de 15 mil exemplares. Abriu caminho e deverá encorpar a presença da publicação maior e mais importante, o Público.
Os donos do negócio não deixam dúvida de que pretendem obter lucros na investida e já mostraram pelo menos algumas de suas armas para o combate. É claro também que o pesado investimento realizado até agora é mais do que um negócio comercial: é a manifestação de um projeto de poder, que não se confunde com o dos Maiorana nem com o dos Barbalho. Ecoa a mensagem e canaliza o vigor de Marabá, a capital do sul do Pará e, provavelmente, do novo Estado, de Carajás, se ele vier a se constituir.
Belém, refratária por princípio a qualquer redivisão do imenso território sob sua jurisdição, o segundo maior do país, não poderá mais deixar de ouvir a voz dissonante do sul do Estado e de observar sua pujança econômica. Paissandu e Remo foram suplantados pelo Águia. O Liberal e o Diário do Pará poderão ignorar o novo competidor? Mais grave ainda: suas sobrevivências de alguma maneira não estarão postas em questão se o concorrente se apresentar com qualidades novas e superiores? Haverá espaço suficiente para abrigar quatro diários?
Talvez até haja, embora não pareça haver. Independentemente do que acontecer no segmento de jornais, porém, a penetração nessa área encouraçada por um grupo econômico originário de Marabá e até recentemente mantido à distância da capital tem um sentido ainda mais amplo, que se ressalta em plena campanha eleitoral em Belém: a perda de expressão e de poder da atual capital do Estado. Com a possibilidade de se tornar a capital da siderurgia paraense e, finalmente, assumir sua predestinação histórica de centro irradiador e aglutinador do vale do Araguaia-Tocantins, Marabá quer agora muito mais do que lhe é oferecido. Conforme anunciou no seu editorial de inauguração, no dia 5, Público se propõe a olhar de frente a complexidade da Amazônia, sem a "pequenez e mesquinharia que assola" Belém. Não é simples o desafio. É preciso ter as ferramentas adequadas para enfrentá-lo, sob pena de a declaração cair no vazio.
O projetado Estado de Carajás, com apenas um terço da população do Pará remanescente (se também for criado o Estado do Tapajós), tem uma receita de exportação que, no ano passado, já ultrapassou o Pará. Seu saldo de divisas é ligeiramente menor, mas. como possui muito menos população (embora com incremento demográfico maior), seu PIB/per capita é bem mais do que o dobro do Pará.
Mesmo que não constituam um plano integrado, conscientemente articulado com essa finalidade, Águia e Público são sinais desses novos tempos. Os velhos barões que se acautelem: sua falsa nobreza parece estar começando a ficar com os dias contados. Para o bem ou para o mal, o Pará é maior do que imaginavam seus tutores encastelados na capital.

Vazamento de gás

População vizinha às instalações industriais da Pará Alimentos, no bairro do Diamantino, acordou hoje cedo sentindo forte cheiro de gás que vazou durante a madrugada das instalações daquela empresa de abate de frango.
Os bombeiros foram acionado por populares. Após rápida perícia nos equipamentos o vazamento foi estancado. A empresa pode ser multada pelo Isam.