quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Lucio Flávio Pinto: Nossos gurus

A revista eletrônica Observatório da Imprensa, de São Paulo, reproduziu a resenha que fiz do livro de Larry Rohter, Deu no New York Times, publicada na edição anterior deste jornal[ tambem no Blog do Estado]. Um leitor, o professor Ademario Iris da Silva Junior, de Niterói (RJ), postou o seguinte comentário:
“Meu caro jornalista, Você também precisa fazer pesquisa. Ainda no tempo do Barão do Rio Branco, as grandes potências, capitaneadas pelos EUA (surpresa!), propuseram internacionalizar os rios da Amazônia, já que a bacia amazônica abrange vários países. O Brasil rapidamente respondeu com um tratado (que vigora até hoje), onde se lê que a navegação é livre somente para os países que fazem parte da bacia. Ou seja, Colômbia, Peru, Equador, Bolívia e Brasil, e ninguém mais! Então, para os que têm memória curta, o temor da ocupação tem fundamentos históricos e sólidos. Santa ingenuidade achar que um território como esse não desperta cobiça...”.
Mandei-lhe esta resposta:
“Um dos grandes preconceitos dos brasileiros é considerar inexistir vida inteligente na Amazônia. Ao primeiro impulso, estão a nos dar lições a respeito da nossa própria história. Ou, o que é ainda pior, a querer deduzir a Amazônia à distância. Mesmo pessoas sinceramente solidárias com a região e que já leram muito sobre ela se entregam a essa tentação, que eu quase chamaria de etnocêntica (ou geocêntrica). A última e devastadora tentativa de "integração" e absorção da Amazônia pelo Brasil se baseou na noção do "deserto vazio", do anecúmeno. Só porque tem população rarefeita, em coerência com a dominação das grandezas naturais, se impôs a ocupação dos "espaços vazios", vazios porque vistos de fora, a partir de uma hiperbólica noção de conhecimento da Amazônia. Como resultado, a maior destruição de floresta da história humana: 700 mil km2 em três décadas. Fiel a essa tradição de colonialismo, este interno, o leitor me manda pesquisar sobre a tentativa de considerar o rio Amazonas braço de mar para efeito da navegação de cabotagem. O primeiro barco a vapor singrou o rio em 1853, houve de fato interesse em internacionalizá-lo, mas não com o apetite voraz que a geopolítica (madrasta da compreensão intelectual amazônica) sugere. A Amazônia não estava madura ainda para o saque, que ocorre agora. E um cidadão brasileiro nos remete a um passado que conhecemos bem, esquecendo a realidade”.

2 comentários:

Anônimo disse...

A profundidade do conhecimento de alguns "especialistas em Amazonia" da intelectualidade sulista brasileira,comparada a do LF, estah mais para a profundidade do Lago Arari em dezembro que para o do estreito de Obidos, onde a sua navega ,sem Pratico.
Enquanto isso, continua chuvendo nos campos do anteparo entre a terra e o mar , ha mais de cem anos...

Unknown disse...

Caramba,
Jamais recebi resposta nenhuma ao meu comentário. Só fui ler agora, ao por acaso pesquisar meu nome na Internet. Fica muito fácil dizer que respondeu e nem avisar ao comentarista que houve resposta.
Não sou especialista em Amazônia, mas gosto muito de história, principalmente quando é bem contada...