domingo, 26 de abril de 2009

Lúcio Flávio Pinto: Vontade real

Editor do Jornal Pessoal e articulista de O Estado do Tapajós

O PT pôs fim aos 12 anos de hegemonia tucana na política do Pará, mas não instalou uma nova forma de governar no Estado. As mudanças foram mais cosméticas e retóricas. As continuidades é que prevaleceram, de alto a baixo. Um pequeno exemplo a mais dessa constatação é oferecido pela sorte da Estação das Docas. O projeto foi combatido como uma intrusão onerosa do poder público num espaço essencialmente privado. A um custo final mais do que dobrado em relação ao orçado e tropelias pelo caminho, a Estação foi concluída, inaugurada e administrada imperialmente pelos delegados do arquiteto Paulo Chaves Fernandes. À frente do negócio, para efeitos legais, estava uma organização social, a Pará 2000. Mas ai de quem não cumprisse as determinações – urbi et orbi – do voluntarioso super-secretário (que era apenas de cultura, para quem quisesse acreditar).

PT mudou a Estação das Docas? Não de início, mas agora, sim. O local é uma das pedras de fantasia do colar (de bijuteria) oferecida a um novo aliado político. As pessoas indicadas pelo Partido Verde entendem do riscado? A julgar pelo pânico que se estabeleceu entre os donos de restaurantes e demais pontos comerciais do espaço, não. Querem salários, DAS, vantagens, status e o que couber no butim. Um esforço de ajuste e correção de rumos, que estava em curso, foi lançado à baía das conveniências políticas e do arbítrio do executivo.
A OS Pará 2000 morreu, sem fita vermelha, se é que não nasceu morta. Atender aos interesses da clientela, respeitar a integridade dos conselheiros, servir ao público? Balela. O baile da ilha Fiscal acabou e os convivas estão à espera do “cristo” para voltar aos seus domicílios. O povo passa fome? Que coma brioches, pensa a Maria Antonieta ao tucupi. O exemplo da Estação é apenas um. Há muitos outros, bem mais graves. Mas é pelo dedo que se conhece o gigante. Quem ocupa o trono emite de lá os éditos reais e faz valer sua vontade: na Estação, no Hangar, na Seduc et caterva. Só não em Brasília, onde, ao que parece, Lula não mudou a primeira opinião sobre o governo petista do Pará. A primeira impressão ficou.


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