quinta-feira, 25 de junho de 2009

UnB forma, em jornalismo, a primeira índia pelo sistema de cotas

Camila de Magalhães
Marcelo Ferreira/CB/D.A Press

Amazonir na prática da área que mais gosta do jornalismo: TV

Correio Braziliense

A pernambucana Maria Amazonir Araújo da Cruz Ferraz, 28 anos, é a primeira indígena a se formar na Universidade de Brasília (UnB) por meio do sistema de cotas, iniciado em 2004. Ela acaba de concluir o curso de Comunicação Social, habilitação em jornalismo. A jovem confessa que pensou em não entregar seu trabalho final após saber da decisão do Supremo Tribunal Federal, que aboliu a obrigatoriedade do diploma para exercício da profissão.

"Quando soube disso, me deu uma louca, quase peguei uma passagem e fui embora para a aldeia", conta ela, lembrando que o que a impediu foi responsabilidade com o governo. Para ela, foi uma decepção saber que o diploma não era mais necessário. "Acho que desvalorizou a profissão e desmereceu o tempo de estudos na universidade", opina ela, dizendo que poderia ter feito outro curso, caso soubesse antes. "Lutei tanto durante cinco anos e hoje o diploma não serve mais".

Amazonir produziu um programa piloto de televisão sobre questões indígenas. Reuniu psicólogos, educadores, alunos e até o reitor da UnB para debater sobre saúde, política e educação de indígenas como cidadãos comuns, e não pintados, como no ritual. "Quero levar a questão indígena para ser discutida no mundo todo, de forma realista, para ser respeitada".

A apresentação para a banca examinadora será no início de julho. Dependendo do resultado da avaliação, ela pretende levar o projeto adiante e executá-lo para trabalhar na mídia em prol de seu povo. Agora quer passar um período na aldeia enquanto aguarda a aprovação do pedido de dupla habilitação em audiovisual. Amazonir também pretende fazer um mestrado em psicologia ou ciências políticas. Depois, voltará para a comunidade para disseminar sua bagagem e mostrar que é possível realizar um sonho.

"Sei que sou a primeira do convênio a se formar, mas isso não é algo incrível". "Não é uma coisa extraordinária um índio estudar alguma coisa", defende. Para ela, o maior problema é a oportunidade, diferenciada pela oferta de educação, situação geográfica, financeira e social. Na avaliação dela, o convênio tenta suprir uma desigualdade sem querer discriminar. "Precisamos de algo desigual para poder entrar".

Nenhum comentário: