domingo, 16 de agosto de 2009

Lula e Collor viram aliados políticos

Tiago Pariz
Correio Braziliense


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é pragmático. Não se importa com as cores de suas alianças. Aproxima-se de quem pode lhe valer um voto a mais no Congresso, seja aliado ou antigo adversário. A história não importa. Lula é refém de um sistema de governo com 14 partidos que o obriga a fechar os mais diversos pactos para ter maioria no Senado e na Câmara. O PT, que vive um amor paradoxal com o presidente, e amigos antigos estão incomodados com os gestos de afago direcionados ao senador Fernando Collor (PTB-AL). A aproximação com o alagoano é apenas um dos flertes de Lula que anda atravessado na garganta dos petistas.

Na avaliação de petistas, Lula está exagerando, e fazem um alerta: isso pode lhe custar a própria popularidade. “Em Alagoas, o presidente não precisa do Collor para ganhar mais votos. É justamente no Nordeste onde ele é mais admirado. Lá, é uma via de mão única. Só o Collor está surfando na onda Lula”, lamentou um membro da legenda.

O incômodo é com a maneira como o ex-presidente tenta refazer a própria história. Na base aliada, o constrangimento é visível quando Collor sai em defesa de Lula e vice-versa. “O presidente não pode resgatar lideranças que pertencem a momentos questionados pela sociedade”, defende o senador Renato Casagrande (PSB-ES).

A amizade do petista com o petebista teve até aperto de mão em público e privado. Os dois dividiram palanque em Alagoas e trocaram cumprimentos fraternais em um evento sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). No ápice da crise envolvendo o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), Lula convocou Collor para uma conversa, com o objetivo de agradecer a postura adotada em defesa do peemedebista.

Um deputado da cúpula petista reclamou da atuação de Lula e culpou a bancada do Senado pelo desgaste. Para ele, os movimentos erráticos dos senadores correligionários obrigam o presidente a buscar apoio onde o trato político não tem subjetividade. “Os senadores do PT vivem este paradoxo ético em apoiar ou não o Sarney. O presidente busca quem não tem essa consciência ética e possa fazer essa negociação direta.”

Contraste
A amizade de hoje contrasta com o passado. A disputa presidencial de 1989 foi apelativa. No segundo turno, Fernando Collor venceu por uma diferença de 4,1 milhões de votos. Com o então presidente denunciado por corrupção, Lula tomou a dianteira e o PT encabeçou a campanha pelo impeachment. Tudo isso não importa mais. Escorado na alta popularidade do presidente, Collor almeja voos mais altos: quer voltar a ser governador de Alagoas.

Para o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), a aliança de Lula é bizarra. Vasconcelos também diz que o presidente pode pagar um preço indesejável por esses novos amigos. “Todos estão encostados no presidente Lula porque estamos na véspera da eleição. É tudo muito bem pensado. Não tem ética. É só aritmética.”

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