terça-feira, 13 de outubro de 2009

Ana Júlia: "Preciso do apoio do PMDB"

“Estou reconstruindo o Estado do Pará. Recebi o Estado com as políticas públicas abandonadas, deterioradas. O governo anterior [do PSDB] era muito inteligente na hora do marketing, mas abandonou o Estado”, disse a governadora Ana Júlia Carepa na noite desta segunda-feira (12), ao participar do programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo (na foto, da Agência Pará).
Entrevistada pelos jornalistas Heródoto Barbeiro, Cátia Seabra (Folha de S.Paulo), Antonio Prada (Portal Terra), Ricardo Mendonça (Época) e Palmério Dória, Ana Júlia fustigou o quanto pôde os governos tucanos em vários momentos da entrevista. “O tempo dos massacres, como o de Eldorado dos Carajás, já terminou”, disse ela, referindo-se às mortes de 19 sem-terra durante o governo Almir Gabriel.
Ana Júlia reforçou que pretende manter a aliança com o PMDB de Jader Barbalho, disse que no momento é contrária à divisão do Pará e afirmou que, em relação aos kits escolares, vai mantê-lo, mas determinará que sejam feitas licitações.

Clique para ter acesso ao vídeo e ao áudio da entrevista.
Abaixo, uma síntese dos principais temas abordados:

PESQUISA
Ana Júlia disse que via com tranqüilidade pesquisa do Ibope, feita em agosto, indicando que seu governo tem 59% de rejeição. “Pesquisa é retrato de um momento”, disse Ana Júlia. Ela lembrou que assumiu sob grande expectativa de resolver demandas graves e considerou normal que todos pensem que tudo estará resolvido rapidamente. “Mas não posso fazer milagres”, afirmou.

GASTOS COM PESSOAL
“Nós temos que fazer o Estado crescer. E não tem como prestar serviços se não tiver servidor”, disse a governadora. Ana Júlia admitiu que a crise atingiu fortemente o Pará, Estado com economia baseada em grande parte na exportação. Lembrou que, há duas semanas, ela e mais quatro governadores estiveram em audiência no Ministério da Fazenda e todos apresentavam problemas semelhantes. Ana Júlia garantiu, no entanto, que em agosto e setembro o Pará já apresentou um saldo positivo na geração de empregos.

DIVISÃO DO ESTADO
Ana Júlia considerou o sentimento divisionista até certo ponto natural, uma vez que o interior ficou muito tempo abandonado. Disse que procurou descentralizar as políticas públicas e acredita que o sentimento separatista teve um certo arrefecimento. Mas confessou que agora é contra a divisão do Pará. “Neste momento, divisão não é adequada. Neste momento, eu sou contra. Precisamos avançar muito para discutir melhor, de forma mais aprofundada essa situação. Porque não é verdadeiro que a divisão será a solução para todos os problemas”, disse a governadora.

VALE
Palmério DÓria questinou sobre os cortes de R$ 13 bilhões feitos pela mineradora e suas repercussões nas finanças do Estado. “Se a Vale pagasse o que deveria ao Pará, a vida da população seria melhor”, disse o jornalista. “Com certeza”, concordou a governadora. Ela admitiu que a Vale “sempre teve relação não muito fácil com o Pará”. Mas observou que a mineradora já retomou o projeto Onça Puma. “E estamos licenciando outros projetos. Na sexta-feira, assinei com a Vale termo em que a empresa assume o compromisso de construir siderúrgica em Marabá. E já recebi quatro empresários, dizendo que vão se instalar no sul do Pará, a partir da implantação da siderúrgica”, anunciou Ana Júlia.

SERRA PELADA
A governadora se mostrou preocupada com a possibilidade de que se estabeleça uma situação em que haja uma corrida de milhares de pessoas ao garimpo, como aconteceu nos anos 80 do século passado. Lembrou que, a partir de agora, a lavra no garimpo só será feita mecanicamente. E informou que cooperativa dos garimpeiros contratou empresa e formalizou ao governo do Estado um pedido de licenciamento.

ABAETETUBA
Sobre o caso da menor violentada por mais de 20 presos dentro de uma cela em Abaetetuba, no final de 2007, Ana Júlia voltou a deplorar a ocorrência. “Foi uma situação lamentável. Sou mulher e mãe. Minha filha, na época, tinha a mesma idade [da garota de Abaetetuba]”, disse Ana Júlia. Ela garantiu, no âmbito do Executivo, todas as providências foram tomadas para punir os envolvidos. “Afastamos as pessoas, abrimos processo administrativo”, disse Ana Júlia.

SEGURANÇA PÚBLICA
Ana Júlia disse que seu governo recebeu o Estado “com mais de 90% das delegacias caindo”, e sem condições de custodiar mulheres. “Já reformamos e construímos mais de 50 delegacias. Foi essa a herança que eu recebi”, reforçou a governadora. Ela disse ainda que seu governo não tem tolerado desvios de conduta quaisquer que sejam. “Os policiais sabem que o tempo da impunidade acabou”, afirmou.

DOIS PALANQUES
Ana Júlia admitiu a possibilidade de que haja dois palanques para a ministra Dilma Rousseff no Pará, em 2010. Um dos palanques seria do PT, outro do PMDB. Mas foi enfatica em dizer que o PMDB ainda faz parte de seu governo e nele tem “presença significativa”. Confirmou que, na semana passada, conversou com o deputado federal Jader Barbalho, presidente do PMDB.

O PMDB E A ALIANÇA
A governadora, indagada sobre a forma de participação do PMDB na aliança estadual, em 2010, disse que não se descarta a possibilidade de que o partido indique o candidato a vice na sua chapa. “Mas [o PMDB] pode também ocupar uma vaga para o Senado”, complementou Ana Júlia.

ACUSAÇÕES A JADER
Ana Júlia foi questionada sobre sua aliança com Jader Barbalho, sobre quem recaem acusações de improbidade. O jornalista Heródoto Barceiro referiu-se àquele “caso da criação ds pererecas lá”, referiu ao ranário de Márcia Barbalho, ex-mulher de Jader que tocou o empreendimento com recursos da Sudam. A governadora não respondeu diretamente a essa questão. Preferiu dizer apenas que “o PMDB é um grande partido, tem mais de 30 prefeitos, tem nove deputados estaduais e vários deputados federais”. Mas lembrou que, em São Paulo, o governador tucano José Serra tem como aliado o ex-governador Orestes Quércia (PMDB), contra quem recaem acusações de ter enriquecido ilicitamente na vida pública. E acrescentou: “Queremos apoio do PMDB porque é bom para o Pará. Ninguém mais governa sem coalizão”.

O PMDB E OS CARGOS
Insistentemente questionada pelos jornalistas, Ana Júlia não respondeu o teor de sua conversa com Jader em termos de cargos. Não disse se vai ou não devolver ao PMDB os cargos que o partido detinha até há poucos meses, como o é caso, por exemplo, da Secretaria de Saúde (Sespa). “O PMDB é que devolveu a secretaria de Saúde. Dois terços do PAC são administrados pelo PMDB”, lembrou Ana Júlia.

CAOS NA SAÚDE
“Também fiquei chocada com o caso da Santa Casa”, disse a governadora, referindo-se à mortandade de bebês ocorrida no ano passado. “E há alguns anos era pior. Inaugurei UTI neonatal, UTI adulta. Estou construindo uma nova Santa Casa, com 180 leitos”, afirmou Ana Júlia. Ela destacou que 90% do sucesso para o nascimento de um bebê depende de um pré-natal benfeito, o que não acontece, segundo ela, com 80% das mães que chegam de carro e de ônibus do interior, “em terríveis condições”. Afirmou que, para combater essa situação, o Estado passou a transferir recursos diretamente para as prefeituras melhores as condições dos equipamentos de saúde.

NEPOTISMO
“Tenho orgulho de ter recebido do Ministério Público me colocando como a grande parceira no combate ao nepotismo”, disse a governadora. Ela não considerou que a nomeação de seu ex-marido Marcílio Monteiro para o cargo de titular da Secretaria de Projetos Estratéticos (Sepe) se configue como nepotismo, uma vez que está separada dele há 12 anos. Disse ainda não terem fundamento as informações de um piloto com quem manteve um relacionamento no início de seu governo tenha sido servidor do Estado.

KITS E LICITAÇÃO
Ana Júlia discordou de telespectador, segundo o qual o governo é conhecido por não fazer licitação. Sobre o escândalo dos kits escolares, disse que confiou na “análise jurídica da minha ex-secretária de Educação [Iracy Galllo] de que eles podiam fazer daquele jeito”, ou seja, sem licitação. Ela considerou “ótimo” que o Ministério Público investigue o assunto, disse que o programa de distribuição de kits escolares é um dos mais vitoriosos de seu governo e garantiu: “Vamos manter os kits, mas pedi à secretária [de Educação” para fazer a licitação de forma diferenciada”.

1 BILHÃO DE ÁRVORES
O jornalista Palmério Dória classificou o programa 1 Bilhão de Árvores “um plano quase inocente”. Ana Júlia lembrou que há 20, 30 anos, Amazônia passou a ser mera exportadora de matéria-prima, tanto que a Sudam financiou desmatamento. E disse que o 1 Bilhão de Árvores não se destina a plantar eucaliptos. “O programa é de recomposição florestal, o que é diferente de reflorestamento”, explicou a governadora.
(Do Espaço Aberto)

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