quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Moradores da Floriano Peixoto resistem ao avanço do comércio

Cilícia Ferreira
Repórter


O centro de Santarém não possui apenas prédios comerciais. É possível notar casarões que ainda resistem ao avanço do comércio. São prédios antigos e históricos, alguns são remanescentes dos séculos XIX.
A travessa Floriano Peixoto é um exemplo disso. Aproximadamente 13 prédios permanecem como residências, dentre eles o casarão localizado entre as Travessas Francisco Corrêa e 15 de Novembro datado de 1867, pertencente hoje ao fotógrafo Edson Queiroz. São, na maioria, famílias que persistem em morar no lugar em que se formaram, muitos nasceram e cresceram no mesmo endereço.
É o caso da família dos Santos. Os irmãos Nazaré, José e Ruth Santos, primeira locutora de rádio de Santarém dizem que nasceram em casa, na época em que o médico da família consultava em domicílio. Dona Nazaré conta a relação que os irmãos têm com a casa, por pertencer à família há duas gerações. "Moramos aqui desde quando nascemos, nossos pais se casaram e vieram morar aqui em 1936". Os irmãos relembram, saudosamente, dos tempos em que a rua ainda não era pavimentada e existiam muitos vizinhos, famílias tradicionais possuíam as casas muito bonitas e todas ajardinadas.
Eles citam como exemplo de casa e vizinhos ilustres a conhecida Vila Paraíso que foi residência do português Manoel Gomes Farias. “ A mansão foi construída por ordem do Cel. Joaquim Braga, no final do século XIX ou início do séc.XX, onde residiu até 1917, ano que vendeu tudo que possuía na cidade, inclusive o palacete, para pagar dívidas. A compradora foi d. Anésia Pinto Guimarães, filha do Barão de Santarém e viúva do ex- Intendente Municipal Silvino Pinto. Só em 1937 que o imóvel foi traspassado para seu Manoel Gomes Farias”, segundo relata Wilson Fonseca em seu livro Meu Baú Mocorongo. Vizinho que os irmãos dos Santos se recordam. Eles contam que o pai, seu José Inácio dos Santos trabalhava com o português.
Outros vizinhos presentes na lembrança da família são os irmãos Otávio e Gustavo Sirotheau que não somente residiam, mas possuíam estabelecimentos comerciais na travessa. Era o Empório Palmeirinha, de Otávio, localizado na esquina com a travessa 15 de Novembro e a loja Fluminense, de Gustavo, esquina com a travessa 15 de Agosto.
A família de Leonel Pereira, pai de Otávio Pereira também é um exemplo de tradição, assim como Luís e Estefânia Colares; Valeriano e Iraci Colares; Rosa e Odorico Liberal, pais do ex - Prefeito Ronan Liberal; D. Martinha Gentil; o ex- prefeito Armando Lages Nadler e d. Carolina (sua esposa) entre outros.
Os estabelecimentos comerciais que os irmãos citam são a Agência da PanAir, cujo gerente era Dácio Campos; o Empório Palmeirinha; a loja Fluminense; o Atacadão do William Gonçalves (seu Titica). Além da primeira agência da Empresa Telefônica de Santarém, presidida pelo Sr. Mechede (dono do Mascotão); do Clube América e do Santarém Clube. E também, no começo do século XX, a primeira residência da Madre Maria Imaculada se localizou entre travessa dos Mártires e Barão de Santarém.
Nem com a mudança brusca do aspecto e do clima da rua, a família diz que não pensam em sair do local. Apesar do trânsito e do movimento intenso de pessoas, os irmãos afirmam que "ainda é muito bom morar na Floriano Peixoto". A vizinhança é reduzida, mas segundo eles, há uma união dos vizinhos.Eles contam que a vantagem de morar na travessa, além de todo o contexto histórico, eles estão localizados em um lugar estratégico perto de vários serviços; comércio, farmácia, supermercado, bancos e etc.
A maioria das famílias que continuam residindo na travessa são famílias tradicionais da cidade, como a família Bemerguy, que reside no local há mais de 40 anos. Dona Berenice Bemerguy relata que criou seus seis filhos com a liberdade de brincar na rua sem o risco de violência e do trânsito. Os vizinhos sentavam em frente de suas casas para conversar. "Eram muitos vizinhos, agora só tem alguns da minha época", relembra.
Ela conta que mantinha juntamente com seu esposo, Emir Bemerguy, um consultório dentário em sua casa. Com a aposentadoria o imóvel é usufruído como residência.
Ela ainda comenta que as inconveniências de se morar numa área comercial são o barulho causado pelo trânsito e movimento intenso de pessoas, mas mesmo assim, ela não abre mão de sua casa: quer morar lá até o final de sua vida. Segundo ela, muitas propostas de compra e de locação já foram feitas para a família, mas nenhuma foi aceita.
Para reforçar o que já foi dito por alguns vizinhos, Dona Adail Picanço, funcionária pública aposentada, diz que a rua era chamada de rua da alegria, por causa das belezas das casas e jardins e, do bom relacionamento que os vizinhos tinham entre si. A aposentada mora na residência há mais de 50 anos. Ela diz que quando seu pai comprou a casa que era usada pelo morador anterior como uma espécie de matadouro. Ela conta que a casa estava em um péssimo estado de conservação, o que não impediu a compra do imóvel.
Ela diz que gosta de morar no local porque fica perto de tudo, quase não precisa de condução para se locomover, gosta também do ambiente que a casa dela proporciona. Salvo alguns inconvenientes causados pelo barulho do trânsito e de carros alto-falantes, ela assim como os outros moradores entrevistados, não quer sair do endereço.
Tanto que ela já recebeu propostas de compra do imóvel e possui outra residência, em um bairro mais tranqüilo e com um espaço maior, mas nenhum desses fatores faz com que ela mude de idéias.
Santarém tem uma histórica riquíssima e parte dela pode ser contada a partir dos antigos moradores ilustres e dos atuais da Trav. Floriano Peixoto.

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