quinta-feira, 24 de junho de 2010

Confeccionar ternos e paletós, um ofício que está desaparecendo

Com o avanço da tecnologia e as novas oportunidades no mercado de trabalho, muitas profissões vão sendo esquecidas, mas existem aqueles que permanecem com seu trabalho.
Os alfaiates sempre tiveram a preocupação de fazerem ternos com precisão, e bem ao gosto do cliente.

Em Santarém é difícil encontrá-los, mas não significa que seja impossível. É o caso do alfaiate Balduíno Oliveira, 68 anos, com 51 anos de profissão.
Desde garoto Balduíno sempre sonhou em trabalhar na profissão. "Eu nasci com a vocação, comecei a trabalhar como aprendiz, foram nove meses de aprendizagem sem receber nada", relembrou.

Foram dois anos de duro trabalho, até que Balduíno decidiu abrir a própria alfaiataria. "Depois de 10 anos passei a fazer paletó, com a curiosidade e força de vontade, aprendi sozinho", relembrou. E observa que a grande dificuldade era não ter pessoas com quem tirar dúvidas, por isso cometia vários erros: "Era uma manga mais comprida que a outra, ou estava torcida". Balduino lembra que o cliente não reclamou, mas ficava preocupado, pois sabia que deveria melhorar.

Sempre se pensa que ser alfaiate é exclusivo de homem, isso não significa que uma mulher não pode ter o mesmo trabalho. É o caso de Edirnil Andrade, conhecida como "Meca". Ela trabalhou durante alguns anos com produção de terno, mas sua maior paixão e prioridade são os vestidos de noivas. "Fazer ternos requer muito detalhes e precisão. Devo reconhecer que somente o verdadeiro alfaiate sabe fazer", reconheceu.

Mas o que une Meca a Balduino é paixão pela profissão. Desde jovens os dois sonhavam em trabalhar com roupas. Meca só conseguiu a partir dos 25 anos, e há mais de 20 está trabalhando no setor, e Balduino, desde os 17 anos.

O alfaiate foi insistente em se profissionalizar na produção de paletó. Decido a morar em São Paulo, viveu lá durante dois anos e oito meses. Primeiro trabalhou numa empresa, apenas 18 dias, o salário não lhe agradou. "Não nasci para ser mandado, e sim para mandar, sou patrão de mim mesmo", gaba-se o alfaiate. Então decidiu sair, com a ajuda de um irmão, que lhe entregou um local para abrir sua alfaiataria. Mas como havia deixado sua esposa em Santarém, ela não queria ir para São Paulo, Balduino, largou tudo e voltou para a cidade natal.

Balduino conta que o cliente só reclama, quando o serviço não é feito por ele. "Tenho pessoas me ajudando, ao saberem que não fui eu. Então ficam chateados", declarou. O grande público sempre é masculino, mas sempre está fazendo calça social para mulheres.

Já Meca relata que os clientes gostavam dos paletós que produzia, mas percebeu que mãos masculinas sabem talhar com precisão. " Certa vez um alfaiate passou em minha loja e perguntou a meu filho quem tinha feito os paletós, ele afirmou que era eu. Meu filho não sabia que eu tinha comprado. O alfaiate teimou que os ternos tinham sido talhados por um homem, não conseguia acreditar que poderia ter sido feito por uma mulher", relembrou a costureira.

Depois de anos de trabalho, Balduino decidiu não fazer mais paletó apenas conserto quando necessários. "Fazer um paletó demora três dias, não estou com a mesma garra de antes", reconheceu. Atualmente estão diminuindo as alfaiatarias na cidade. "Os clientes reclamam, que tem poucos alfaiates", lamentou.

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