quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Ribeirinhos do Tapajós mostram céticos quanto à presença de chumbo na farinha atestada em pesquisa da USP

Da redação

Pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo (USP), em 13 comunidades do rio Tapajós, examinando 453 ribeirinhos através de exames de sangue constatou alta dosagem de chumbo em seus organismos. A pesquisa comprovou que após o processo de torrefação da farinha o chumbo se apresenta já que o processo é feito em placas metálicas. Mas, em Santarém, ribeirinhos, feirantes e produtores de farinha não acreditam nessa pesquisa. Segundo eles, muitos ribeirinhos vivem acima dos 100 anos com muita saúde com alimentação à base da farinha.

O número de concentração dado como referência para o chumbo é de 10 microgramas, segundo o CDC-Atlanta e a Organização Mundial de Saúde. Na população do rio Tapajós ao ser analisado o sangue da população foram observadas concentrações entre 0,58 e 48,3 microgramas por decilitro, uma média de 12. Foi então que preocupou os pesquisadores.

Para avaliar de onde vinha esta contaminação e após analise do solo e de todo o processo de produção da farinha, verificou-se que o chumbo se apresenta após o processo de torrefação. O processo é feito em chapas metálicas em praticamente todas as comunidades. Daí ficou comprovado que o procedimento de confecção da farinha causava a contaminação. Chegaram a identificar farinhas com 1 micrograma por grama de chumbo.

Dona Maria Lúcia, da comunidade de Boa Vista, não acredita que possa haver contaminação de chumbo nas farinhas. "Sei o que é o chumbo e o seu grau de perigo, minha base de alimentação sempre foi à farinha, e nunca tive um problema sério de saúde", afirmou. Para ela deve haver algum engano por parte dos pesquisadores.

Vânia Alcântara que sempre compra farinha no Mercadão 2000, não consegue aceitar a definição dada pelos pesquisadores. " Talvez o problema esteja na água, sabemos que os nossos rios estão cada vez mais poluídos, muitas embarcações trafegam os rios da Amazônia e sei que muita impureza é jogada. Não sei como a população ribeirinha ainda tem saúde", questionou.

Rosinete da Silva, produtora de farinha há mais de 30 anos diz não acredita no resultado de chumbo na farinha. " Talvez isso seja da água, não conheço ninguém que tenha alguma doença estranha por suspeita de chumbo no organismo", afirma.

Seu Manoel Itamar da comunidade de Pauá, várzea, conta que em sua comunidade existem várias pessoas acima de 100 anos e que sempre consumiram a farinha. "Tem comunitários com 103 anos, com a alimentação a base de muita farinha, não é possível que isso aconteça", declarou. Ele tem conhecimento do perigo do chumbo, e afirma que há muitos anos a farinha é torrada em placa metálica.
"A farinha tem ajudado muitas pessoas na comunidade que moro, sei que é bastante resistente, tem um alto teor de fortalecimento para o ser humano", destacou Manoel ressaltando que mesmo com a divulgação dessa pesquisa não irá impedir das pessoas de consumirem a farinha.

Mas segundo os coordenadores da pesquisa, o futuro das crianças da região é preocupante, pois a base da dieta da população ribeirinha está contaminada por chumbo. A grande preocupação é que com a exposição do metal pesado, é esperado que as crianças tenham uma redução da capacidade intelectual e do crescimento, entre diversos outros problemas neurológicos.

No Brasil existe uma legislação vigente da Anvisa para farinha de mandioca, mas ela não inclui valores máximos permitidos para chumbo. Entretanto, sabe-se que as legislações de outros países têm como referência para alguns alimentos a concentração máxima permitida de 0,1 micrograma por grama.

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