segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A incrível história do chinês Poon Lim, o náufrago que sobreviveu 133 dias à deriva antes de ser resgatado

Por Eduardo Rey

O roteiro da viagem de Poon Lim
133 dias sozinho em alto-mar

O marinheiro chinês Poon Lim pode ser considerado o "Pelé" dos náufragos, após sobreviver com muita criatividade e perspicácia à deriva por 133 dias no Oceano Atlântico, ao largo da Costa do Nordeste e Amazônia brasileira.

Poon Lim ANTES e DEPOIS de sua aventura

Lim nasceu em 1917 na ilha de Hainan, no Sul da China, um local paradisíaco, que se parece mais com os mares do Sul do que com o caos das metrópoles chinesas que conhecemos.

Hainan, onde os "mares do sul" encontram a China...


O ano era 1942, em plena Segunda Guerra Mundial, quando os "U-Boats" alemães e "Destroyers" americanos  infestavam os mares, e mesmo navios mercantes considerados suspeitos eram abatidos sem cerimônia.Muitos navios brasileiros também foram afundados neste período.

Mapa de navios brasileiros afundados durante a 2a Guerra


Em Novembro de 1942 alistou-se como membro da tripulação do navio mercante britânico Benlomond, que partiu da Cidade do Cabo em direção à Guiana Holandesa. 


O navio mercante inglês Benlomond
Tripulação: 54 Passageiros
53 Mortos e 1 Sobrevivente


Devido ao mau tempo em sua travessia rumo às Américas, o navio desviou-se de sua rota original e chamou a atenção do comandante alemão Carl Emmermann, do U-Boat-172. No dia 23 de Novembro de 1942, enquanto Poon Lim estava descansando em uma das cabines de serviço, sua embarcação foi torpedeada "preventivamente".


O Comandante alemão Emmermann 
O Benlomond foi apenas um dos 26 navios que ele afundou durante a 2a Guerra

Contando com a sorte de estar no lado oposto ao local onde o torpedo atingiu o navio, Lim teve tempo de colocar um salva-vidas e nadar o mais rápido possível para evitar a enorme sucção provocada pelo afundamento do Benlomond.

Horas depois, encontrou uma das precárias balsas de emergência que resistiram ao naufrágio, contendo 30 litros de água, um pacote de biscoitos navais, 2 barras de chocolate, 2 torrões de acúcar, algumas tigelas, um sinalizador e uma lanterna. Poon Lim não sabia, mas esta seria sua casa pelos próximos 132 dias.

A "casa"de Poon Lim durante 133 dias (reconstituição)


Durante os primeiros dias a esperança era grande de um rápido resgate, e Lim passava os dias procurando sinais de embarcações, aeronaves ou terra. 

Na quarta semana Lim encontrou e resgatou em alto mar um pedaço de lona e uma corda com a qual construiu um abrigo contra o sol escaldante que estava tostando sua pele. 

Este foi o último golpe de sorte: agora era a vez da inteligência entrar em ação..

Com a corda encontrada no mar e roendo a mola da lanterna já inútil, construiu um anzol. Usou como isca o último biscoito e conseguiu pescar uma sardinha, que serviu de isca para peixes maiores.

Biscoito Naval: feito prá durar, e não para ter gosto bom...

Porém, as vísceras e restos de peixe que ficavam sobre a balsa apodreceram e começaram a tornar até a respiração de Lim difícil. Mesmo sabendo que aquilo poderia lhe causar problemas, teve que jogá-las ao mar. O "banquete" atraiu dezenas de tubarões que ficaram durante dias rodeando a balsa, afastando qualquer peixe nas imediações, impedindo-o de pescar.

Foi quando ele percebeu que precisaria pescar um tubarão...

Tubarão: um dos itens do menu de Lim

Fez um anzol maior com um dos pregos da balsa e usou a última cabeça de peixe como isca. Conseguiu puxar para a balsa um  tubarão que serviu de alimento durante vários dias.

Até a 12o semana, as chuvas haviam colaborado, e Lim  conseguia matar a sede capturando água da chuva nas tigelas, mas uma seca terminou com a água. 

Foi quando ao observar os pássaros que rodeavam a embarcação devido ao cheiro de vísceras de tubarão, teve outra idéia genial...

Gaivota: parte da dieta no final da viagem

Usando restos de algas e plantas marinhas do fundo da embarcação, construiu um "aconchegante" ninho, e quando a primeira gaivota pousou na balsa, matou-a a dentadas, bebeu seu sangue e consumiu sua carne.

No dia 133, finalmente Lim foi resgatado por um pequeno navio de pesca brasileiro, e seguiu para Belém do Pará. Assim terminava uma das mais fantásticas histórias de perseverança e inteligência que se tem conhecimento.

Belém do Pará na década de 40
Destino após o "resgate"

As Marinhas da Inglaterra e Estados Unidos ouviram detalhadamente toda a história e incluíram muitas das idéias de Lim em seus Manuais de Sobrevivência.



Lim recebeu muitas honras, inclusive uma autorização para viver nos Estados Unidos, em uma época em que as imigrações chinesas estavam proibidas naquele país. Faleceu em 1991 com 74 anos, no Brooklin.

A escritora Ruthanne Lum McCunn escreveu um livro de muito sucesso sobre sua história, chamado "Sole Survivor". 




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