domingo, 9 de maio de 2010

O crime legal

Lúcio Flávio Pinto

Editor do Jornal Pessoal

A história contemporânea da Amazônia segue dois marcos. Sem considerá-los, ninguém poderá entender o que acontece na região. O primeiro deles, por ordem cronológica, tem dois desdobramentos. Começou na segunda metade da década de 50 do século passado, quando pela primeira vez a Amazônia foi integrada por terra ao restante do país, inicialmente através das rodovias Belém-Brasília e Brasília-Acre (seguidas de outras estradas de porte semelhante, como a Transamazônica).

Esse marco foi arrematado duas décadas depois, quando os militares, no poder pelo período mais longo de todas as suas intervenções na vida política brasileira, decidiram acelerar a ocupação desencadeada pelas estradas. O lema era categórico: “integrar para não entregar”.

Uma longa tradição de raciocínio geopolítico muito forte, sobretudo na caserna, garantia que a Amazônia era objeto, desde o início da presença européia, de uma cobiça internacional profunda, persistente e ameaçadora. Ela só não se consumara porque o colonizador português mostrara sua valentia (além de sagacidade) na defesa (e expansão) das fronteiras amazônicas. Esse sentimento foi repassado ao nativo.

Mas essas qualidades já não eram suficientes para assegurar a soberania nacional sobre a mais extensa e rica fronteira do país. Os “espaços vazios” constituíam o ponto frágil da vigilância e da defesa da integridade territorial. Era preciso que cidadãos nacionais ocupassem esses espaços, atraídos pelas promessas de enriquecimento e intensamente apoiados pelo governo (inclusive através de colaboração financeira do erário). A Amazônia precisava deixar sua condição de reserva e passar a produzir.

Essa contingência se impôs quando de outro marco: a primeira crise do petróleo, de 1973. O mundo se redefiniu para se adaptar ao novo custo da energia. Em nenhum lugar do mundo há mais energia contida na natureza do que na Amazônia. Em seus rios caudalosos, no seu subsolo, nas suas árvores, nas suas chuvas, no seu sol. Um dos lugares-chave da nova redivisão internacional do trabalho passou a ser a Amazônia.

Ela tem duas das maiores fábricas de alumínio do planeta (e o alumínio é o bem industrial mais eletrointensivo que existe), a maior fábrica de alumina, algumas das principais plantas minerais, a quarta maior hidrelétrica da Terra. Quase todos esses bens e insumos são remetidos para o exterior. As empresas que os produzem contam com participação acionária de algumas das principais multinacionais. A Amazônia, internacionalizada desde a sua origem (foram os espanhóis que lhe deram esse nome) e nacionalizada só recentemente, já sob o Império, nunca foi tão internacionalizada quanto agora. E nunca tão integrada à economia nacional. Ao contrário do que pensavam os militares no poder, uma coisa levou à outra, ao invés de impedi-lo.

Os estrangeiros parecem ter aprendido que é mais cômodo e mais rentável explorar as riquezas da Amazônia sob um governo local do que abrindo filial colonial da metrópole no além-mar. Os relatos sobre tentativas de intervenção estrangeira direta não resistem a um exame mais apurado.

Diz a lenda (revestida de verdade histórica nos manuais de ocasião, muito caros aos nacionalistas) que, no século XIX, a poderosa Inglaterra só não anexou a Amazônia porque Eduardo Angelim, o principal líder da Cabanagem, a maior insurreição popular da história brasileira (irrompida em 1835), rejeitou as propostas insinuantes de autonomia de um representante britânico, colocando-o para correr.

Documentos oficiais ingleses, aos quais só recentemente se teve acesso, revelaram que o próprio governo brasileiro, na época chefiado pelo regente paulista Diogo Feijó (em nome do imperador Pedro II, ainda menor), autorizou a Inglaterra a invadir secretamente a convulsionada província para reprimir os rebeldes. A tarefa estava além das possibilidades das tropas brasileiras, empenhadas em combater outra grave insurreição, a dos Farrapos, no outro extremo do país, o Rio Grande do Sul.

Navios da armada inglesa (a mais poderosa da época) estiveram em Belém e seu comandante concluiu que dominaria tudo com apenas 150 fuzileiros navais. Se quisesse fazer da Amazônia uma nova Índia, era o momento. Feitos os cálculos, Sua Majestade verificou que lucraria mais mantendo a nacionalidade brasileira. Ao invés de tropa, mandou seu banco e financiou o início da exploração da borracha. O Banco do Brasil levou quase um século para se instalar na região, depois de criado.

O ministro das relações exteriores da Inglaterra, Lorde Palmerston, instruído pelo embaixador no Rio de Janeiro, não aceitou a proposta de Feijó para a invasão secreta, a repressão e a pacificação da província distante, que seria devolvida então ao governo imperial. Apresentou várias justificativas relacionadas à legalidade e à autodeterminação dos povos, mas, na verdade, tinha em mente números.

A Inglaterra ganhou muito dinheiro comprando e financiando a borracha amazônica. E, depois, quando constatada a inviabilidade de aumentá-la na escala exigida, partiu para o sucedâneo asiático, a partir de sementes coletadas no Pará. Tudo dentro da lei. Sem contrabando, ao contrário do que proclama outra lenda compensatória.

A “pacificação” da província rebelde, que o governo imperial acabou por assumir, foi mais sangrenta do que os motins políticos. Depois de cinco anos de conflagração, 20% da população da Amazônia morrera, com maior ênfase na fase da “pacificação”. Se fosse hoje, seriam mais de dois milhões de mortos. Há algo semelhante na história do Brasil? Não é tão frequente nem na belicosa história da humanidade.

Histórias de pé quebrado sobre a “cobiça internacional” da literatura geopolítica têm servido de habeas corpus ao saque dos recursos amazônicos, inclusive humanos, praticado pelos nacionais. Possibilitam até a pilhagem internacional, sem chamar a atenção da opinião pública, condicionada a achar que internacionalização é sinônimo de invasão armada.

Foi assim que o governo federal conseguiu criar o Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia). Dizia-se que os Estados Unidos aproveitariam uma manobra militar conjunta na vizinha (ex-inglesa) Guiana (o Brasil foi convidado e não aceitou), para ensaiar a invasão da Amazônia. Usaria o conceito de “soberania limitada”, ao qual a Amazônia estaria sujeita por ser patrimônio da humanidade.

Assim, o Sivam, mesmo custando dois bilhões de dólares, não passou por concorrência pública. Era mais uma ação de emergência pela defesa da ameaçada segurança nacional na Amazônia, alvo da insaciável cobiça internacional. A dispensa de licitação criou um dos escândalos que abalou a administração do presidente Fernando Henrique Cardoso.

De lá para cá as exportações amazônicas cresceram mais de quatro vezes, a participação acionária de empresas estrangeiras se expandiu e os vínculos ao mercado mundial foram reforçados. Há menos “espaços vazios”, não só porque a população cresceu a uma taxa superior à da média nacional, como porque os pioneiros que abrem essas frentes foram responsáveis pelo maior desmatamento de toda história da humanidade: em meio século puseram abaixo área equivalente a três vezes o tamanho do Estado de São Paulo, que concentra um terço da riqueza nacional.

Ou seja: integrada, para não ser entregue aos piratas estrangeiros (ou aos “marines” americanos), a Amazônia paga aos seus protetores um preço. O de deixar de ser Amazônia. É assim que se torna Brasil, finalmente.

Jader deixa como está para ver como é que fica

Do Blog do Parsifal


Quem esperava maiores revelações na entrevista de Jader Barbalho à Radio Tabajara ouviu que o PMDB aguarda a definição do quadro nacional para desenhar o quadro local.

Jader não descarta um duplo palanque no Pará, pois comunga da visão do presidente Lula de que as divergências regionais devem ser respeitadas.

Discorre sobre o tamanho e o desejo do PMDB no Pará: o partido tem o maior numero de prefeitos do Estado, por conseguinte, o desejo de uma candidatura própria é unanime.

Jader não se consagra como único candidato do PMDB ao governo e afirma que não é realidade a crença de que outro nome seria visto como uma candidatura inviável: "há outros nomes no partido que têm possibilidade de vitória.".

Lembra que o PMDB desde 2002 decide as eleições para governador e, por ter transito em todas as posições políticas do estado, sem estabelecer dialogo preconceituoso com ninguém, é o partido que tem maiores chances de angariar apoio em um segundo turno.

Credita o fato de o PMDB clamar pela sua candidatura, à contingência de que em todas as pesquisas realizadas, mesmo em o PMDB estando há 16 anos fora do poder, o seu nome aparece em primeiro lugar: isto é índice de que o povo paraense tem boa memória das suas administrações.

Diz que aliança com o PT, que deveria ser preferencial por conta da questão nacional, tem dificuldade em função da difícil convivência local durante estes três anos.

Afirma que o próprio PT tem problema com o governo: "há um grupo que controla o PT e outro que controla o governo".

Acusa que o grupo que controla o governo aparelhou a administração, jamais permitindo que o PMDB participasse do governo: o PMDB apenas matem cargos e empregos, o que não é conveniente para o partido.

Esta situação é desconfortável e causou quebra de confiança, o que é fundamental no relacionamento partidário: "se o governo se comporta assim quando precisa do PMDB para a reeleição imagina quando não precisar mais.".

Sobre a proposta de Ana Júlia para o PMDB, Jader afirmou que todas as propostas serão analisadas com o partido, pois não é somente o destino político dele que está em jogo, mas o destino de toda a agremiação.

Adiantou que não há disposição de discutir cargos neste momento: "cargos nada adiantaram nos três anos, agora faltando 6 meses, eles não interessam.".

Jader irá analisar o que é conveniente para o PMDB, pois, em uma relação, se alguém cede o que não lhe é conveniente, "já está perdendo".

Quanto a não precisar de apoio para se eleger senador, Jader veste-se de modéstia: "não sou pretensioso para dispensar o apoio de ninguém.".

Por fim, reafirma que quem quiser o apoio do PMDB terá que respeitar o seu tamanho. "Se o PMDB for respeitado poderá haver dialogo.".

Àqueles que apostam que o PMDB poderá ser pressionado por Lula para compor com o PT local, Jader avisa que "ninguém vai decidir pelo PMDB nem aqui e nem fora. O presidente Lula não vai decidir pelo PMDB do Pará.".

Sobre as conversa com o PSDB, Jader declara que tem conversado com todas as lideranças: "ninguém decide a eleição sozinho no Pará.".

Sobre ser a noiva ou o noivo nestas eleições, Jader diz que não tem postura preconceituosa com as noivas: ambos têm o mesmo valor no casamento.

E, sobre o assunto, encerra com uma piada:

Certa feita, em uma acalorada discussão na Câmara, um deputado gaúcho afirmou que no Rio Grande do Sul todos eram machos. Ao que, um deputado mineiro, que com o gaúcho se batia, retrucou: "pois em Minas Gerais metade é macho e metade e fêmea e todos se dão muito bem.".

As várias facetas da maternidade

Luana Leão
Repórter


“Sou mãe de filha adotiva e me irrito quando dizem que ela não é minha filha verdadeira”. A frase é de Brennda Machado, mãe de Giovanna, de 5 anos.

Costumeiramente, no Dia das Mães, a imagem da mãe é associada àquela que deu a luz, à que é mãe, biologicamente falando. Porém, em todo o mundo existem os “pais de criação”. Pessoas que por algum motivo cuidam do filho não-biológico como se o fosse, trazendo para si a mesma responsabilidade de quem gerou uma criança.

Brennda, por exemplo, não esteve todos esses cinco anos ao lado da filha. Não a viu nascer, muito menos deu o primeiro banho, mas vive a mesma rotina de uma mãe e se sente como tal. Para ela, a adoção é uma experiência surpreendente, que necessita de um aperfeiçoamento contínuo em todas suas etapas. “De uma forma verdadeira e natural, Giovanna conhece toda a história de sua vida, pois a verdade deve prevalecer. Todos os dias tenho que conquistar cada centímetro de seu território, algumas vezes com carinho, outras com severidade” revela.

Algumas etapas da maternidade são inalcançáveis quando não se é a mãe biológica, como amamentar e em alguns casos, doar sangue. Brennda afirma que há quem pense que, criar um filho gerado por outra pessoa é complicado, quando se trata da construção da personalidade e do caráter da criança, pois se deduz que estes são herdados dos pais. Mas para ela, mudar isso é apenas uma questão de tempo e dedicação. “É claro que vemos orgulho nos pais biológicos que também desempenharam a paternidade. Seus filhos têm seus traços, seus trejeitos, suas heranças biológicas.

Mas quem não conhece mães biológicas que não adotaram seus filhos e hoje os arrasta pela vida como fardos ou simplesmente os largam por aí?”. Para Brennda, a recompensa é vista todos os dias, quando vê Giovanna, uma criança que foi desamparada pela mãe biológica, sorrindo e fazendo planos para seu futuro. “Futuro que está sendo construído com minha ajuda, ajuda da minha família e seu esforço pessoal”.

Seu Adamor Carvalho vive uma situação diferente. Aos 63 anos teve que se tornar pai novamente, pois sua filha engravidou de Gabriel, decidiu não cuidar da criança e viajou sem data para voltar. Ele e sua esposa tiveram que mudar toda a rotina para criar o menino. “Fui obrigado a pegar a criança, mas não me arrependo. Já o tenho como meu filho”, confessa. Se antes a rotina dele se adequava aos compromissos de um pai, hoje, Seu Adamor vive uma nova condição: a de pai e mãe, pois sua esposa faleceu há uma semana. “Antes eu ainda podia fazer algumas atividades e deixar o Gabriel com minha mulher, hoje levo ele para onde eu vou. É complicado, mas eu não vejo problema, me sinto feliz em cuidar dele”, declara.

Mãe verdadeira é aquela que, mesmo adotiva, mesmo sendo avô, tio, pai, produz condições para que a criança se torne uma pessoa digna de um convívio social sadio. É aquela, ou em alguns casos, aquele, que desempenha funções capazes de oferecer a continuação do ventre, ou seja, calor e proteção, função de mãe; apresentação suave para viver no mundo, função de pai. O laço de amor que une pais e filhos, biológicos ou não, é construído no dia-a-dia.


Mamãe está fazendo falta nesta fotografia

Miguel Nogueira de Oliveira:

A foto acima é da Família Oliveira, em segunda, terceira e quarta gerações.

Foi um registro feito sexta-feira à noite, em Belém, durante a festa de casamento de meu sobrinho Yuri e Michele.

Yuri é neto de Sarita e Petronilo, meus pais, e filho de Leó, minha segunda irmã.

Há muitos anos não tínhamos como reunir família tão grande e espalhada por esse Brasil.

Somos dez irmãos e irmãs, dois cunhados, seis cunhadas, 20 sobrinhos e oito sobrinhos-netos.

Não puderam vir até Belém minha filha Larissa, que estuda e trabalha em Porto Alegre, meus sobrinhos Cleiton Filho, que mora em Macapá, Jéssica, Erica( e seus filhos Luciano Neto, Rebeca e João Lucas, netos de José Maria), Sandro, Fabrício, que moram em Uberlândia, Nilo e Ana Beatriz, que moram em Porto Velho, Patrícia e sua filha Sophia e Rodolfo, que moram em Santarém, e Rafaela, que mora em Belo Horizonte. Também não estiveram conosco Ítalo, filho de meu sobrinho Cleiton Filho, Gabriel, filho do também sobrinho Genardo, Krynssia( e suas filhas Pietra e Giovana, netas de Benedito), e Letícia(filha de Yuri, neta de Leocádia).

Dos cunhados, Edson Fantini e Emília Barbagelata não estiveram conosco.

Neste momento histórico para nós, descendentes da Família Oliveira, a fotografia registra as seguintes presenças:

Em Pé( da esquerda para a direita): Marcos(genro de Petronílo, pai de Renata), Petronilo(irmão), Ricardo(sobrinho), Laura(cunhada, esposa de Petronilo), Rômulo(sobrinho), Ramon(sobrinho), Luã(filho), Rejane(esposa), Cleiton(irmão), Terezinha(cunhada, esposa de Cleiton), Naíla(sobrinha), Genardo(sobrinho), José Maria(irmão), Airton(irmão), Malu(esposa de Rômulo, filho de Petronilo), Airton(irmão), Ediene(cunhada, esposa de Benedito), Leocádia(irmã) e Camile( com Giovani, no colo, esposa de Ricardo, filho de Petronilo).
Sentados( da esquerda para a direita): Renata(sobrinha, esposa de Marcos), Roberta(sobrinha), Angela(irmã), Tereza(irmã), Benedito(irmão), Vânia(cunhada, esposa de Airton) e Ana Maria(irmã).

Neste domingo dedicado às mães, ao olhar para esta foto, sinto a falta dela, minha mãe Sarita, que a todos nós criou e educou, vencendo as enormes dificuldades desta vida, nos legando a mais nobre das virtudes: a honestidade.