quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Pontos e contrapontos

Francisco Rocha Junior:

Nunca é demais repetir: este blog se caracteriza pela diversidade de opinião. Diversidade entre os leitores, entre os comentaristas e, talvez principalmente, entre os editores.

Para quem acompanha o Flanar, é um caso emblemático a discussão que travei, durante algumas postagens, sobre a concessão ou não de asilo político ao italiano Cesare Battisti com nosso confrade Itajaí de Albuquerque.

Portanto, não há que causar espanto eventual discordância entre os autores do blog, que, também repito, são maiores, vacinados e, por isso, respondem plenamente por suas opiniões.

Dito isto, ressalvo meu entendimento sobre o texto a respeito do qual um anônimo, na caixa de comentários do post As Fúrias Tropicais, pediu a opinião do Itajaí. Tratava-se de um trecho do artigo “Lula, o Bom Ditador”, que o jornalista Lúcio Flávio Pinto publicou em seu Jornal Pessoal da 2ª quinzena de agosto último, e que foi republicado no site do O Estado do Tapajós, do também jornalista santareno Miguel Oliveira. A seguir, a parte transcrita pelo anônimo:

Lula é aquilo que, abusando do jargão, se passou a chamar de “força da natureza”. É uma esplêndida culminação de instintos vitais. Mas sem a menor condição de autoconhecimento, de reflexão e de análise. Sua maior malignidade está em se infiltrar sem ser percebido. E, mesmo sendo impossível, passar a ser aceito como normal.

Tomado fora do contexto, a redação causou no poster do Flanar indignação, que ele expressou na postagem Um Curioso Exemplo de Higienismo na Política Brasileira. Aqui, para mim, está o primeiro motivo de discordância com meu companheiro de blog: não se pode tomar um texto por parte dele. Não se pode criticá-lo a partir de mera análise descontextualizada, sob risco de incorrer no mesmo equívoco dos cegos da fábula, que tomaram um elefante por tudo aquilo que ele não era.

Mas assim fez meu caríssimo Itajaí. E por isso desconsiderou a análise – para mim, perfeita – que LFP fez a respeito do alcance que esta quase unanimidade do presidente Lula traz para a crítica política brasileira. O artigo espelha o que penso a respeito do tema, focando a absoluta indigência de posicionamento, de crítica e até mesmo de marketing que a oposição brasileira tem revelado nestas eleições.

É preciso, é necessário, é imprescindível para a democracia que haja o contraponto. Lula e o Partido dos Trabalhadores não são a nona maravilha do mundo moderno. Dentre outras coisas, Lula foi incapaz de romper com o modus operandi político das elites brasileiras: teve que se vergar a elas, atraindo para seu lado, em nome da quase maldita governabilidade, gente da estirpe de Jader Barbalho, José Sarney, Renan Calheiros e Fernando Collor. Traiu, na verdade, a esperança de milhões que queriam mudanças no modo de fazer política quando, sob a luz inevitável dos holofotes, mostrou que o PT trata a máquina administrativa exatamente como PFL, PMDB, PTB e até o próprio PSDB o fazem: para multiplicar e manter o poder.

Claro que o governo Lula tem seus méritos. Um deles, atacar aquilo que os governos sociais-democratas não conseguiram (ou não quiseram): aplacar a fome da população. Mas esta não pode ser uma justificativa suficiente para que se esqueçam os inúmeros erros, por inconsequência, omissão ou deliberação, que o governo petista cometeu. Aí deveria estar a oposição para, se responsável fosse (ou se tivesse moral), levantar o debate.

Por tudo isso, a figura do bom ditador é paradigmática. Mas se a oposição deve ser contraponto, a situação também deveria por a mão na consciência e, se fizer a crítica interna das ações e omissões do governo, expô-la ao respeitável público. Afinal, se o PT foi o maior algoz de Rubens Ricúpero no hoje já histórico “escândalo da parabólica”, parece não ter querido aprender a lição pela experiência dos outros.

Ibama diz que ainda não recebeu pedido de Belo Monte

LEONARDO GOY

Agencia Estado

BRASÍLIA - O presidente do Ibama, Abelardo Bayma, disse hoje que a Norte Energia, empresa responsável pelo projeto da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA), ainda não entregou ao órgão toda a documentação necessária para a emissão de uma licença ambiental provisória que autorize a instalação do canteiro de obras. "Estamos aguardando que a empresa dê entrada com esse material na semana que vem", disse Bayma, após participar de solenidade de lançamento do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas do Cerrado (PPCerrado).

Segundo Bayma, os empreendedores participaram com o Ibama, há 15 dias, de uma reunião na Casa Civil onde manifestaram interesse em obter uma licença de instalação para o canteiro de obras, antes da licença mais ampla para toda a obra. De acordo com ele, somente após ter todos os documentos em mãos, é que o Ibama terá condições de julgar a qualidade do material apresentado para decidir se libera ou não a licença.

A estratégia de pedir uma licença provisória para o canteiro é uma maneira de tentar começar o quanto antes as obras de Belo Monte. O objetivo da Eletrobras, estatal que na prática lidera o consórcio, é começar os trabalhos ainda neste mês, cronograma que está cada vez mais difícil de ser cumprido. Questionada sobre eventuais prazos para a liberação da licença, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, preferiu não fazer previsões.

A licença provisória de canteiro foi usada, por exemplo, no projeto da usina de Jirau, no Rio Madeira, em Rondônia. Naquele caso, como os empreendedores alteraram o local de construção da barragem, a licença completa para a obra demoraria mais para sair. Por isso, a solução naquela ocasião foi liberar uma licença para o canteiro.

Veículos nas praias

José Olivar:

Os motoqueiros e veículos traçados que infestam as praias de Santarém nesta época do ano, fazendo das mesmas, pistas de corrida colocando em perigo todos os banhistas que aos domingos e feriados se dirigem para o único lazer que dispõem.
No feriado de 07 de setembro pude constatar o desprezo dos condutores desses veículos para com a vida dos banhistas. Muito mais que antes, reforço meu apoio aos reclamos dos que defendem uma praia livre de veículos e faço aqui um apelo às autoridades policiais para se deslocarem até estas praias e lá apreenderem motos e automóveis. Do contrário, não demorará muito e vamos registrar acidentes horríveis. É só esperar!

II Fórum Nacional de Conflitos Agrários

Quinta, sexta-feira e sábado está acontecendo em Belém, o II Fórum Nacional de Conflitos Agrários, reunindo mais de dois mil participantes no Hangar Centro de Convenções da Amazônia. O anfitrião do evento foi o Tribunal de Justiça do Estado do Pará, que reuniu representantes dos três Poderes da República, além de especialistas e outros convidados envolvidos com a questão fundiária no Brasil.

II Fórum Nacional de Conflitos Agrários

Quinta, sexta-feira e sábado está acontecendo em Belém, o II Fórum Nacional de Conflitos Agrários, reunindo mais de dois mil participantes no Hangar Centro de Convenções da Amazônia. O anfitrião do evento foi o Tribunal de Justiça do Estado do Pará, que reuniu representantes dos três Poderes da República, além de especialistas e outros convidados envolvidos com a questão fundiária no Brasil.

Lula, o bom ditador - A controvérsia unilateral

O artigo de Lúci Flávio Pinto, 'Lula, o bom ditador", publicado aqui no Blog do Estado, provocou as mais controversas reações, mas nenhum ao ponto a que chegou Itajaí Albuquerque.

Por se tratar de uma análise unilateral feita por Itajaí a partir de um pequeno trecho do artigo de Lúcio Flávio Pinto, publicado originalmente no Jornal Pessoal, e sua recusa em publicar a resposta do autor do texto, o Blog do Estado se vê na obrigação de publicar os dois lados dessa polêmcia para que, você leitor, tire suas próprias conclusões.

Escreveu Lúcio Flávio Pinto:

Um amigo me surpreendeu ao enviar, hoje, um comentário de Itajaí Albuquerque a partir de trecho da minha matéria de capa sobre o Lula na última edição do Jornal Pessoal (uma nova deverá estar nas bancas amanhã). Peço a quem receber esta mensagem que a leia com atenção e, querendo, a comente e difunda. Acredito que ajudará a pensar sobre o grave momento que o país atravessa neste período eleitoral.

Escreveu Itajaí Albuquerque no Blog Flanar:

Em comentário à postagem As Fúrias Tropicais, pediram-me opinião sobre o seguinte texto: Lula é aquilo que, abusando do jargão, se passou a chamar de “força da natureza”. É uma esplêndida culminação de instintos vitais. Mas sem a menor condição de autoconhecimento, de reflexão e de análise. Sua maior malignidade está em se infiltrar sem ser percebido. E, mesmo sendo impossível, passar a ser aceito como normal.
Eu não sei exatamente a procedência do texto, mas qualquer que seja a origem dele é de pouca importância para responder o que me foi solicitado. De cara observamos que o parágrafo apresentado exemplifica um viés ideológico do autor (a), ao apresentar uma visão estereotipada do presidente Lula. Chamam a atenção os elementos textuais que tem correspondência com às idéias dos higienistas raciais que contaminaram vergonhosamente a ciência desde os meados século XIX e levaram aos desvios éticos da eugenia no século XX. Os termos "força da natureza" e "culminação de instintos vitais", "malignidade", "infiltrar", "normal" remetem com força à linguagem própria dessas disciplinas que deram sustentáculo ao nacional-socialismo alemão e seus conhecidos crimes contra a Humanidade.
Para clarificar melhor o conteúdo narrativo do texto, cito Roso e colaboradores*, que descrevem de forma aguda a fisiologia do estereótipo: estereotipar faz parte da manutenção da ordem social e simbólica, estabelecendo uma fronteira entre o “normal” e o “desviante”, o “normal” e o “patológico”, o “aceitável” e o “inaceitável”, o que “pertence” e o que “não pertence”, o “nós” e o “eles”. Estereotipar reduz, essencializa, naturaliza e conserta as ‘diferenças’, excluindo ou expelindo tudo aquilo que não se enquadra, tudo aquilo que é diferente.
Podemos contextualizar os elementos dessa explicação no exemplo a seguir, extraído de "Minha Luta" (Mein Kampf), opera omnia de Adolf Hitler: As qualidades intelectuais do judeu formaram-se no decorrer de milênios, Ele passa hoje por "inteligente" e o foi sempre até um certo ponto. Somente, sua compreensão não é o produto de evolução própria, mas de pura imitação.
Minha opinião, portanto, quanto ao parágrafo que me foi solicitado comentar, é a constatação do quanto a paixão política pode levar as pessoas ao exercício das mais baixas inspirações ideológicas.

*Cultura e Ideologia: A Mídia Revelando Estereótipos Raciais de Gênero.

Postado por Itajaí de Albuquerque
Lamentável. Fica mantida a análise publicada

Anônimo das 23:50, publicaremos sua postagem quando ela trouxer elementos que justifiquem sua afirmação.

Anônimo disse..

Tenho 61 anos, 45 de jornalismo, e nunca jamais, para citar o Lula, alguém me havia feito acusação tão grave quanto fez o Itajaí nessas poucas linhas, a partir de um mínimo trecho de um artigo bem maior, concatenado entre vários parágrafos em defesa de uma tese. Por ele, deixei escapar meus instintos mais satânicos: nazismo enrustido, higienismo, preconceito et caterva. Tudo isso por fanatismo anti-Lula, a quem eu imaginava ter analisado com todo empenho da minha inteligência. Deixo ao distinto público, se é que me conhece de fato, fazer seu juízo a respeito da acusação (acusação, não: sentença inquisitorial). Sobre o Itajaí, eu já fiz o meu. Seu texto dogmático diz tudo, para mim, sobre sua seriedade intelectual e condição humana. Um abraço, Lúcio Flávio Pinto

Itajaí de Albuquerque
disse...

De minha parte, e acredito que acompanhado por segmento dos teus leitores, aguardamos um texto que supere esse que infelizmente tu escreveste, sei lá porque sem a seriedade intelectual que evitasse a dura análise que fiz.

Escreveu Lúcio Flávio Pinto:

Logo em seguida mandei novo comentário (segue abaixo), que até agora não foi aceito no blog. Nem minha cobrança de publicação foi respondida. Pelo que decidi tornar pública a controvérsia, para que mais pessoas possam se manifestar.

Tenho 61 anos, 45 de jornalismo, e nunca jamais, para citar o Lula, alguém me havia feito acusação tão grave quanto fez o Itajaí nessas poucas linhas, a partir de um mínimo trecho de um artigo bem maior, concatenado entre vários parágrafos em defesa de uma tese. Por ele, deixei escapar meus instintos mais satânicos: nazismo enrustido, higienismo, preconceito et caterva. Tudo isso por fanatismo anti-Lula, a quem eu imaginava ter analisado com todo empenho da minha inteligência. Deixo ao distinto público, se é que me conhece de fato, fazer seu juízo a respeito da acusação (acusação, não: sentença inquisitorial). Sobre o Itajaí, eu já fiz o meu. Seu texto dogmático diz tudo, para mim, sobre sua seriedade intelectual e condição humana. Um abraço, Lúcio Flávio Pinto
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Nota do editor: LFP avisa que o comentário já foi postado. Menos mal.
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Atualização às 16h34:
O gentleman Francisco Rocha Junior, um dos titulares do Blog Flanar, faz os seguintes esclarecimentos:

"Caro Miguel,

Cumpre-me esclarecer que o comentário do Lúcio demorou a ser publicado por um motivo muito simples: temos uma regra interna, no Flanar, de que somente o "dono" do post modere seus comentários. Como todos temos outras ocupações, às vezes a moderação dos comentários fica um pouco lenta. Foi só este o motivo na demora.
Peço-lhe, portanto, que se possível publique este esclarecimento com o mesmo destaque dado à crítica na não liberação do comentário.
Abraço cordial.
Francisco Rocha Junior "

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Lúcio Flávio Pinto volta a escrever sobre a polêmica:

Só uma dúvida final e derradeira, Itajaí: leste o texto completo? Infelizmente, não sou leviano o bastante para, tendo escrito o que escrevi, substituí-lo por outro artigo, só porque consideras que meu texto não tem a seriedade que exiges para me poupar da tua dura análise (profeta do dura lex, sed lex). O que eu repeti do Lula no último JP não é novidade. Já escrevi isso várias vezes, sem merecer tão duras - e, a meu ver, inconsistentes e absurdas - acusações. O que mudou é a campanha eleitoral. Estás nela. Eu. não. Continuo fiel ao jornalismo que sempre fiz. Não o pratico para agradar a "a" ou "b", seja quem for, dono do poder ou seu áulico, intelectual ou operário. O que tento é me aproximar da verdade, expondo meus argumentos e os fatos em que se baseiam. A tua é outra. Podes ficar com ela que eu fico com a minha. E os leitores, que se manifestem, conforme suas próprias visões. Não sei se eles te deram procuração para falares por eles. Abraço a todos. Lúcio Flávio Pinto

Zé Dirceu, o comandante em chefe, o capitão do mato

Do Espaço Aberto:

Zé Dirceu é mesmo uma parada.
Gostemos ou não de Dirceu, convém respeitarmos o Zé: quando ele fala, não costuma fazê-lo por meias palavras.
Todo mundo entende logo.
Pois quando fala, claramente e sem rodeios, convém que lhe respondam da mesma forma, claramente e sem rodeios.
Dirceu foi a Salvador e, ontem à noite, mandou ver.
“O problema do Brasil é o monopólio das grandes mídias, o excesso de liberdade e do direito de expressão e da Imprensa", disse ele.
Viram?
Foi o que disse.
Claramente e sem rodeios.
Grande Zé!
Grande Dirceu!
Zé Dirceu tem razões, claro, de achar que “o excesso de liberdade e do direito de expressão e da Imprensa” é um problema.
Dirceu é ex-ministro.
Está sendo processado no Supremo como o condestável do Mensalão.
No esquema do Mensalão, ele despontou como o comandante em chefe (agora sem hífen, vocês sabem).
Como mensaleiro, notabilizou-se como o capitão do mato.
Se não fosse a liberdade de Imprensa, Zé Dirceu seria a Dilma hoje.
Provavelmente, seria o candidato de Lula a presidente da República.
Se não fosse a Imprensa que o denunciou, talvez Dirceu mantivesse o esquema pelo qual foi denunciado pelo Ministério Público e está sendo processado.
Se não fosse a Imprensa e suas liberdade, Zé Dirceu precisaria de mais um Brasil e umas quatro ou cinco Cubas para abrigar as extensões de sua arrogância e do seu quilométrico desprezo a um dos valores maiores de qualquer democracia: a liberdade de Imprensa.
Se não fosse a liberdade de Imprensa, Dirceu não teria um blog, onde diz o que quer, quando quer e como quer.
Se não fosse a liberdade de Imprensa, Dirceu não abrigaria em seu blog colabores e autores de convicções que não comungam, como ele, do “monopólio das grandes mídias”.
Se não fosse a liberdade de Imprensa que existe no Brasil, Dirceu não teria como contrapô-la ao ferrolho verbal, aos freios de expressão, ao monopólio oficial, ao monopólio governamental da informação que existe em Cuba, para onde o Zé viaja para espairecer sob o tacão de uma ditadura assassina, todas as vezes em que o excesso de liberdade o exaspera.
Se não fosse a liberdade de Imprensa, não teríamos como mandar Dirceu pra Pasárgada.
Lá, como amigo do rei, ele poderia ser tudo.
Até ser Zé Dirceu.
O ex-ministro.
O líder do PT.
O factótum do governo Lula.
O comandante em chefe do Mensalão.
O capitão do mato dos mensaleiros processados no Supremo.
O cara que só não é a Dilma de hoje porque a liberdade de Imprensa lhe conteve os passos e as pretensões.
Claramente é isso.
Sem rodeios, é assim.