segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Farahzinho

Lúcio Flávio Pinto:

Se Federico Fellini tivesse rodado seus “Boas Vidas” em Belém, teria pegado como tema as histórias dos irmãos Joseph e Alexandre Farah, os Farahzinhos. Eles foram dois “boas vidas” bem assemelhados aos seus pares italianos. Não por acaso, emergiram para a vida consciente após a Segunda Guerra Mundial, num mundo que ainda tateava na busca da fraternidade, da alegria de viver, do humor e da criatividade.

Num ambiente de democracia, os gêmeos transformaram Belém na ilha de Pago-Pago e se comportaram como os Sobrinhos do Capitão, personagens anarquistas de uma história em quadrinhos de sucesso nessa época. Armaram muitas e boas armadilhas para suas vítimas. Mesmo os que sofreram os efeitos de suas brincadeiras acabavam rindo também. Era um tempo risonho e franco, ou quase. Só nele os dois irmãos não seriam enquadrados numa lei de segurança qualquer, submetidos a processos e trancafiados numa jaula.

Depois de um longo currículo de molecagens sadias, os Farahzinhos se recolheram às suas numerosas famílias e passaram a se dedicar a contemplar o mundo. No dia 16, aos 71 anos, Joseph pediu a conta e se foi para outra dimensão, deixando órfão o Alexandre, sua esposa, filhos, netos, sobrinhos e todos nós, que entramos junto com eles nessa onda, que cresceu nos anos 50 e foi se chocar na praia de 1964, onde a espuma da nossa generosidade foi dissipada, mas não se perdeu. Era a energia que permanece dentro de nós para despedidas tão sofridas quanto a de Joseph Farah.

Um exemplo de como o Pará precisa ser dividido


Os órgãos estaduais não funcionam hoje em Santarém.

O motivo?

A segunda-feira pós-círio de Nazaré, realizado em Belém, ontem, a 750 km de Santarém.

Como em Belém há esse costume, os órgãos estaduais suspendem o atendimento ao público.

Se fosse só para a capital, até que se entenderia.

Mas por quê estender esse 'ponto facultativo' a outras regiões do estado, que têm dinâmicas econômica e social distintas da capital?

Para piorar, como amanhã é feriado religioso, o feriado emendado vira 'feriadão'.

Se queixar, pra quem?

Vazante do rio muda cenário em Alter do Chão

Foto: Miguel Oliviera. 10.10.2010.

Alenquer enfrenta racionamento de energia elétrica

Desde sexta-feira os consumidores do centro de Alenquer estão sem energia elétrica.

A Celpa está fazendo racionamento na cidade ximanga.

Os mais afetados são comerciantes que vendem gêneros alimentícios.

Até no dia da eleição a energia foi racionada. Algumas urnas eletrônicas na zona urbana tiveram que ser alimentadas por bateria.

Debate na Tv entre Serra e Dilma é marcado por ataques

Josias de Souza

Infantaria Dilma-2010 lembra a artilharia Alckmin-2006

Há quatro anos, agressividade fez tucano cair nas pesquisas

Moacyr Lopes Jr./Folha

O palco foi o mesmo: os estúdios da Rede Bandeirantes. De novo, o primeiro debate presidencial do segundo turno. Novamente, petê de um lado e peéssedebê do outro. Em outubro de 2006, coube a Geraldo Alckmin socar o baço.

Já na primeira pergunta, quis saber de Lula: "De onde veio o dinheiro sujo" que os “aloprados do PT” usaram para tentar comprar o “dossiê fajuto" contra tucanos? Neste outubro de 2010, foi Dilma Rousseff quem esmurrou o fígado.

Na questão inaugural, acusou o comitê de José Serra de alvejá-la com “calúnias, mentiras e difamações”. E pespegou: “Você considera que essa forma de fazer campanha, que usa submundo, é correta?”

Há quatro anos, Lula saíra pela tangente. Dissera que ele é quem tinha interesse em esclarecer o "trambique todo" do dossiêgate. Um “plano maquiavélico” que só rendera dividendos à “candidatura do meu adversário".

Serra também tangenciou a resposta. Disse que o “caluniado” da campanha é ele, não Dilma: “Até blogs com o seu nome fazem ataques à minha família, aos meus amigos”. Declarou que a rival confunde “verdades e reportagens com ataques”. Citou o ‘Erenicegate’ e a polêmica do aborto.

“Você disse, [em sabatina] na Folha, filmada, que era a favor da liberação do aborto. Depois disse o contrário. As pessoas cobram coerência. Não é estratégia, se trata de não ter duas caras”, fustigou. “Você não tem duas, mas mil caras”, Dilma devolveu.

Em 2006, Alckmin repetiu a mesma pergunta à saciedade: “De onde veio o dinheiro?” A certa altura, Lula abespinhou-se: "Não sou policial, sou presidente da República". Insinuou que seu contendor tinha "saudades do tempo da tortura".

E Alckmin: "Não teve nem a curiosidade de perguntar para seu churrasqueiro?" Uma alusão a Jorge Lorenzetti, um dos “aloprados” pilhados no malfeito de R$ 1,7 milhão. Dilma também martelou a polêmica do aborto a mais não poder.

E, a exemplo de Alckmin, levou aos holofotes uma personagem da cozinha de Serra. “Sua esposa, Mônica Serra, disse o seguinte: ‘A Dilma é a favor da morte de criancinhas’.” Serra não desmentiu a passagem, ocorrida numa favela do Rio.

Dilma manteve-se no ataque por duas horas, o tempo de duração do debate. Lembrou que, como ministro da Saúde, Serra “regulamentou” o aborto nos hospitais do SUS, para os casos em que a gravidez decorre de estupro.

Serra respondeu que apenas disciplinou procedimento previsto em lei desde 1940. E Dilma: “Normatizou e eu concordo. A questão é: Vamos para a hipocrisia e fingir que não vemos as 3,5 milhões de mulheres que praticam o aborto em condições precárias e vão para o SUS? Vamos tratar ou prender?”

Espreme daqui, esquiva dali, Serra soou assim: “Nunca defendi liberação aborto. Você defendeu. De repente passa a dizer o contrário e a se vitimizar com isso. Com relação a Deus, a mesma coisa. Antes, disse que não sabe bem se acredita. Depois, vira uma devota”.

Sempre que precisou sair das cordas, Serra esfregou Erenice Guerra na face de Dilma. Uma, duas, três vezes: “A chefe da Casa Civil, seu braço direito, organizou um grande esquema de corrupção. E você não tem nada a ver, é tudo alheio a você”.

Numa resposta sobre segurança pública, Dilma injetou um tema incômodo para o tucanato. Disse que, em vez de falar de Erenice, Serra “deveria responder sobre Paulo Vieira de Souza, seu assessor que fugiu com R$ 4 milhões de sua campanha”. Serra fingiu-se de morto. E tome Erenice.

Antes de soar o gongo do terceiro bloco, Dilma ensaiou: “No que se refere a Erenice, fico indignada com a contratação de parentes e amigos com critérios que não sejam técnicos. Gostaria de discutir detalhadamente isso no próximo bloco”.

Sobreveio o intervalo comercial. No retorno, Dilma esqueceu a promessa. Nada de Erenice. Privilegiou o ataque à defesa. Do pescoço para baixo, só enxergou canela em Serra. Colou a imagem de FHC no peito do rival.

Mimetizando o Lula de 2006, grudou em Serra a pecha de privatista. Insinuou que planeja privatizar as reservas do pré-sal. Pior: a própria Petrobras. Acusou-o de interromper, em São Paulo, “dois bons programas” do antecessor Geraldo Alckmin.

Pôs em dúvida a promessa de Serra de dar continuidade aos principais pojetos sociais de Lula: Bolsa Família, Prouni e Minha Casa, Minha Vida. Serra defendeu FHC e as privatizações da era tucana. E repetiu que manterá o que estiver dando certo.

Afora a atmosfera bélica, outro detalhe igualou 2010 a 2006. O debate deste domingo teve como pano de fundo a primeira pesquisa Datafolha feita no segundo turno. Considerando-se os votos válidos, Dilma soma 54%. Serra, 46%.

No debate realizado há quatro anos, o primeiro Datafolha registrava placar idêntico: Lula, 54%. Alckmin, 46%. Diferença de oito pontos percentuais.  Três dias depois, em nova pesquisa, o Datafolha detectou uma oscilação de Lula para o alto: de 54% foi a 56%. Alckmin deslizou para baixo: de 46% para 44%.

Nas sondagens seguintes, Lula tomou o elevador. Alckmin obteve nas urnas menos votos do que amealhara no primeiro turno. O marqueteiro de Alckmin, Luiz Gonzalez, o mesmo de Serra, atribuiria o infortúnio de 2006 ao excesso de veneno de Alckmin.

A toxidade de Dilma resultará no mesmo efeito bumerangue? O tucanato acha que sim. O petismo avalia que sucederá o oposto. Resta aguardar pelas próximas pesquisas.

Correção: TSE não cassou candidatura de deputado estadual eleito no Pará


Raimundo Pinheiro dos Santos teve sentença transitada em julgado por abuso do poder econômico decorrente da arrecadação e aplicação ilícita de recursos na campanha eleitoral de 2006, com inelegibilidade de três anos.

O Tribunal Regional Eleitoral do Pará (TRE-PA), por maioria, julgou improcedente ação de impugnação formulada pelo MPE e deferiu o pedido de registro de candidatura.  O tribunal regional entendeu que a Lei da Ficha Limpa “não é aplicável às situações que se lhe antecedem e nem à disputa eleitoral em curso em respeito aos princípios constitucionais da irretroatividade da lei e da anualidade em matéria eleitoral”.  Sustentou que a resposta do TSE a consulta, no sentido de considerar aplicável a lei ao pleito eleitoral deste ano, não tem caráter vinculante.

Processo relacionado: RO 81115

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Nota da redação: 
O Blog do Estado errrou ao informar anteriormente que o candidato que teve o registro indeferido teria sido o deputado eleito Raimundo Santos(PR).