sábado, 25 de dezembro de 2010

Uma viagem pela Br-163

Velhas pontes de madeira resistem ao tempo

Ponte de concreto já liberada

Ponte de concreto em construção

Leitora do Blog do Estado e tuiteira de mão cheia, Dally Anne está percorrendo neste final de ano a Br-163 desde Santarém até Cuiabá.

A aventureira postou estas fotos sobre a paisagem ao longo da rodovia Santarém-Cuiabá.

Cachoeira próxima a Castelo dos Sonhos

Boiada na pista próximo a Novo Progresso

Acidentes são frequentes na região

Corredeiras próximas a Trairão

Belém: ainda capital?



Lúcio Flávio Pinto
 
Belém ainda possui o maior Produto Interno Bruto do Pará, que em 2007 era de quase 14 bilhões de reais. Mas o PIB de Barcarena já representa quase um quarto da riqueza existente na capital, ou R$ 3,6 bilhões. Nunca um município do interior ocupou posição tão expressiva. A correlação se inverte quando a avaliação é feita pelo PIB/per capita: o de Barcarena (R$ 43 mil) é mais de quatro vezes superior ao de Belém (de menos de R$ 10 mil). A posição de Belém no ranking por esse critério é a 10ª, depois de Barcarena, em primeiro lugar, seguindo-se pela ordem Canaã dos Carajás, Tucuruí, Parauapebas, Marabá, Almeirim, Oriximiná, Benevides e Xinguara.

Dos 10 maiores PIBs per capita do Estado, sete são de municípios que abrigam grandes projetos de mineração e de energia (eles são metade dos 10 maiores PIBs). Isto significa que mesmo não tendo os rendimentos que a maior transformação industrial proporcionaria e privados de receita tributária pela Lei Kandir, que isenta de ICMS a exportação de matérias primas e semi-elaborados, eles continuem os municípios privilegiados pelo ângulo da renda gerada nos seus limites através dos empreendimentos de grande porte.

Pelos próximos anos a tendência ainda será a de que esses municípios continuem a fortalecer suas posições, absorvendo poder que antes se concentrava na capital e incrementando a interiorização do desenvolvimento. Vão depender cada vez menos de Belém e se sentirão em condições de reivindicar mais autonomia, até que possa amadurecer de vez a luta pela emancipação política.

Não significa que esses municípios estejam em condições de obter mais dos grandes projetos que abrigam. Pode acontecer o inverso: de eles se acomodarem com o que já recebem, de grande significação para os padrões paraenses, mas apenas uma compensação diante do valor da produção desses empreendimentos. É aí que Belém poderá se situar, assumindo uma posição de liderança e vanguarda para que o interior cresça ainda mais, tornando-se útil e acatada. Talvez redefinindo o seu papel numa nova ordem espacial, que, de outra maneira, tenderá a excluí-la.

Um tema para reflexão na perspectiva dos 400 anos de Santa Maria de Belém do Grão Pará.

Fichas diversas

Lúcio Flávio Pinto:

Não há crime sem lei que o defina. Nenhuma lei pode retroagir, ainda mais se for para prejudicar o réu. Nenhuma lei eleitoral pode entrar em vigor no ano em que houver disputa eleitoral.

A emenda popular, com 1,3 milhão de assinaturas a referendá-la, não colidia com nenhum desses princípios jurídicos, com tutela constitucional e amparo no direito universal dos povos. Mas passou a ser, no mínimo, controversa, quando foi emendada pelo deputado federal petista José Eduardo Cardozo (indicado para ser ministro da justiça de Dilma Rousseff), com um propósito específico: impedir que o ex-governador Joaquim Roriz voltasse ao comando do Distrito Federal, que disputaria com um candidato do próprio PT.

O casuísmo que modificou o texto íntegro do projeto de lei da ficha limpa (ou suja, conforme o ângulo) abriu um campo enorme à subjetividade, que conduz a interesses pessoais, negociações de bastidores e todos os tipos de manipulações pelo bem comum atrás dos quais podem estar atores nada beneméritos. O resultado foi uma sucessão de acontecimentos que provocaram, dentre outros efeitos, o aprofundamento da desmoralização da corte suprema da justiça brasileira, no expurgo de figuras maléficas da vida pública brasileira, como Jader Barbalho, mas na manutenção de outras de igual estatura, como o ex-governador paulista Salim Maluf e o matogrossense Pedro Henry, um dos vértices do “mensalão”, ambos diplomados deputados federais.

O caminho teria sido reto e expressaria a vontade popular se o texto original não tivesse recebido a vírgula colocada pelo homem que, daqui a alguns dias, será responsável pelos assuntos na justiça no governo da primeira mulher a assumir a presidência da república no Brasil, um país que não faz revolução e não consegue executar reformas sérias.