domingo, 16 de setembro de 2012

Celpa: história muito tortuosa


Lúcio Flávio Pinto

Está cada vez mais claro que foi, no mínimo, precipitação o recebimento pela justiça do pedido da Rede/Celpa de recuperação judicial apenas 24 horas depois que ele foi apresentado. A documentação juntada ao pedido era exuberante, à primeira vista. Submetida a uma análise mais judiciosa, revelava sua completa insuficiência. A situação da concessionária paraense não podia ser definida sem uma visão de conjunto do conglomerado Rede e um pente fino sobre suas contas.

Uma prova nesse sentido é que, desde 28 de fevereiro, quando a recuperação judicial chegou ao judiciário, o passivo da empresa praticamente dobrou, chegando agora a 3,5 bilhões de reais, o que a tornou simplesmente irrecuperável. Outra demonstração foi a decretação de intervenção pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) nas oito empresas que integram o grupo Rede. Certamente com um pouco mais de tempo e mais determinação em apurar a verdade, a Celpa estaria também sob intervenção federal.

Com a recuperação judicial em claudicante andamento, a direção da Celpa deixa de receber os interventores e continua a ser gerida pelos dirigentes do grupo Rede e pelo administrador da confiança da juíza Filomena Buarque, Mauro Santos, por ela indicado depois que destituiu o administrador inicial, nomeado pelo juiz que respondia pela vara e que acolheu o pedido.

Tudo indica que a Celpa foi descarnada para servir de cobertura às outras concessionárias da Rede. Como um passivo chegou a valor tão alto se a Rede tinha no Pará quase oito milhões dos 17 milhões de pessoas por ela atendidas – e 1,8 milhão de clientes diretos para os 2,6 milhões servidos pelas outras oito empresas do grupo?

Tendo começado torta, é provável que essa história vá tortuosamente até o fim.