domingo, 26 de abril de 2015

Jornalismo de ocasião



Lúcio Flávio Pinto

A guerra travada entre os grupos de comunicação dos Maioranas e dos Barbalhos, agora concentrada na batalha em torno da Celpa, levou o ex-deputado estadual José Carlos Lima a “um problema de princípio ético, referente ao conflito de interesses do leitor em ter acesso a  notícias com imparcialidade e as vantagens que a utilização da notícia pode trazer aos proprietários do meio de comunicação”.  
Em artigo publicado no jornal eletrônico O Estado doTapajós, ele lembra que os jornais, as revistas e os periódicos, embora não sejam obrigados a uma licença de funcionamento, “não estão livres de seguir padrões éticos, até porque utilizam-se de profissionais que estão sujeitos a um código de ética”.
O jornal O Liberal está sendo acusado de fazer campanha contra a concessionária estadual de energia simplesmente por não querer pagar uma dívida de 20 milhões de reais por consumo de energia não quitado até hoje. A campanha prosseguiria até a empresa aceitar a transformação do débito em permuta de publicidade nos veículos de comunicação do grupo.
Se a acusação for verdadeira, argumenta o presidente estadual do Partido Verde, “fica claro que o jornal violou os princípios éticos previstos no Estatuto da Fenaj”. Mas ele próprio admite que “ai é que mora o problema”.
“Apurar e punir uma empresa de comunicação ou o jornalista que produziu a matéria não é um tarefa fácil, sobretudo por não sermos a favor de censura e defendermos uma imprensa livre de amarras”.
Reconhece que o que O Liberal diz em relação à Celpa “é verdade e tem respaldo popular. A sociedade não suporta pagar um serviço público tão caro, de péssima qualidade e ainda mais morando num Estado produtor de energia”.
O problema não está na  veracidade das informações, mas no seu uso para atender aos interesses do grupo de comunicação, numa atitude antética. “Se isso for verdadeiro, surge muitas perguntas: Quem poderia investigar, provar e punir o infrator? A Fenaj? O Ministério Público? Os leitores? Ou a empresa diretamente atingida?”
Tanto os personagens citados por José Carlos quanto outros, como o quedo e mudo sindicato dos jornalistas e outros profissionais da imprensa, ou mesmo simples cidadãos, que se escondem e se omitem quando uma questão séria como essa se apresenta. Não se vê a repetição da frequente impetuosidade dos internautas quando o tema se relaciona a poderosos grupos de comunicação. Não os distantes, mas os locais, ao alcance dessas pessoas, ao menos de sua indignação e protesto.
O silêncio alimenta a audácia da manipulação da informação pelos donos dos grupos de comunicação, que usam seu poder em benefício próprio. Na edição do último domingo, por exemplo, a Celpa publicou um anúncio em O Liberal e no Diário do Pará explicando didaticamente que cumpre sua obrigação legal de cobrar o ICMS, o cálculo do imposto é autorizado pela legislação federal, com amparo constitucional, e que não fica com um tostão do recolhimento. Repassa todo o tributo para o Estado.
Por ocupar meia página de jornal e ter um texto curto e direto, o anúncio deve ter sido lido por todos com acesso aos dois jornais. Foi completamente ignorado, no entanto, por O Liberal no seu noticiário a respeito, como se as informações inexistissem. O jornal dos Maioranas continua a dizer o contrário sem desfazer as afirmativas da Celpa. Martelará, assim, até ser perdoado da imensa dívida.
Que jornalismo é esse?