quarta-feira, 16 de março de 2016

Jader: o cão?

Lúcio Flávio Pinto
Resolvi destacar o comentário de Cléber Miranda, que segue abaixo, não por ele concordar comigo. É porque oferece mais uma oportunidade para eu me manifestar sobre o tema. Escrevo não para os que me acompanham há mais tempo, já suficientemente informados sobre a ladainha. É para os leitores recentes, às vezes sujeitos a manipulações hábeis e sórdidas, como continuam a fazer do tema.
Fui amigo de Jader Barbalho e uma das pessoas que acreditaram nele quando se candidatou a vereador de Belém e se elegeu, meio século atrás, iniciando a mais brilhante carreira de um político que se formou na oposição ao regime militar. Foi deputado estadual, deputado federal, duas vezes senador, duas governador e duas ministro.
Fui o único dos integrantes do que hoje pode-se chamar de "a turma do CEPC" que não subiu ao poder com ele. Bem que me convidou, em 1982, mas eu recusei todos os cargos que me ofereceu. Disse-lhe que continuaria a ser o que sempre fui: jornalista. E que continuaria também a ser crítico e fazer oposição, se necessário.
E foi necessário, a partir do escândalo (que revelei e sustentei), de 1984, sobre a desapropriação da gleba Conceição do Aurá, em Ananindeua, supostamente para a implantação de um conjunto residencial popular, mas, na verdade, um acerto de contas da campanha eleitoral.
Num momento em que a esquerda em particular e o público em geral ainda estavam encantados pela retórica e o carisma de Jader, eu já estava criticando-o. De tal forma que cheguei a ser ameaçado de morte, fui hostilizado e rompi com O Liberal e Romulo Maiorana por não aceitar ser censurado pelas críticas que fazia ao governador.
Minhas matérias foram usadas amplamente pela oposição a ele, em especial o PT, e em livros encomendados por seus inimigos, sobretudo Antônio Carlos Magalhães, que denunciavam seu enriquecimento rápido por desvio de dinheiro do erário, como o de Gualter Loyola (que se baseou quase exclusivamente nos meus textos e no material que ACM, em guerra com Jader no Senado, lhe entregou.
Como ressaltou o Cléber (e sou-lhe grato por isso), sempre usei os fatos para fazer a crítica, com provas documentais, em especial as oficiais. Jamais fui desmentido no essencial. Meus erros sempre foram veniais (e publicamente reconhecidos), em grande medida pelas circunstâncias - agravadas pela perseguição judicial, iniciada em larga escala em 1992 - do meu trabalho, hoje tendo por base um micro-jornal, o JP, e nenhum capital.
Nunca aceitei o dualismo: Jader/corrupção, os demais/honradez. Por ser explícita sua promiscuidade com o tesouro, Jader passou a ser usado como o Judas do enriquecimento ilícito, o boi de piranha para a passagem de manadas de ladrões, espertos e oportunistas que se propagam sem precisar de aedes aegypts.
Mirando nele, que nunca se defendeu, até ajuizar recentemente uma ação na justiça contra Ronaldo Brasiliense, buscam manter o povo fixado apenas nele, que serve de biombo e habeas corpus para outros políticos quase tão - ou mais - nocivos do que ele.
Talvez não mais porque realmente Jader se tornou o mais brilhante político paraense pós-64, o único com importância nacional depois de Jarbas Passarinho, o principal quadro do regime militar no Pará.
Daí o senador peemedebista ter se tornado um gênio do mal, o doutor Silvana, inimigo do Capitão Marvel dos quadrinhos, se não me falha a memória dos tempos de leitor de gibi. Mas não é o diabo, o único capeta dos infernos. Infelizmente, o que não falta neste maltratado Pará são capetas do mesmo jazes, ou até de pior extração.
Jader podia ter mudado o Pará para melhor. Foi o único político pós-64 com essa possibilidade. O melhor acabou sendo para ele, sua familia e o seu grupo, não para o Estado. Nem por isso só ele deve pagar a conta negativa das péssimas elites que temos, como querem alguns personagens diabólicos, se fantasiando de querubins e se infiltrando em espaços como este.
Segue-se o comentário de Cléber
O Lúcio não me tem como dos seus leitores mais simpáticos, e eu também tenho sérias restrições quanto ao posicionamento político dele, mas entendo que, nesse caso, ele tem razão e não está sendo parcial, pró -Jader . Lúcio sabe não é bobo, e todos nós sabemos que o senador paraense, desde que, há trinta anos atrás, assumiu o Ministério da Reforma Agrária, tem se envolvido em inúmeras mutretas, falcatruas e irregularidades.
Mas o Lúcio foi bem claro:no âmbito da Lava-Jato, sua participação tem que ser demonstrada de uma maneira mais evidente; ademais, Lúcio fez menção às evidentes ligações “barbalhistas” ao setor elétrico, e suas possíveis conexões com o PAC através de Belo Monte, com os parceiros Sarney e Silas Roundeau, não descartando, por completo, a possibilidade de envolvimento do senador.
Então, penso que o jornalista analisou prudentemente, sem precipitação, como deve ser. Não gosto nem um pouco do senador paraense, e acho-o, como bem frisou o Lúcio há alguns anos atrás, no Jornal Pessoal, o mais nocivo político daqui; mas não posso condená-lo antecipadamente, num julgamento tendencioso, pois depois posso me contradizer, requerendo ampla defesa e direito ao contraditório aos do meu lado, quando neguei essas prerrogativas aos desafetos. Como dizem por aí:”Muita calma nessa hora”.

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