quinta-feira, 24 de março de 2016

Codinomes da corrupção

Lúcio Flávio Pinto
Em matéria de dar nomes ao que faz, A Odebrecht superou - em ironia e precisão - a Polícia Federal com suas operações com designações de efeito. Qual o melhor codinome para Manuela D'Ávila, do PC do B (mimoseado pela empreiteira com dinheiro por baixo dos panos), do que "avião"? Não ficaria bem apelidá-la de "comunista", mesmo o sendo, como fizeram com o deputado federal Manuel Almeida, do mesmo PC do B, que quer cumprir no governo Filma o que o velho partidão (o PCB) procurou ser no governo Goulart até 1964, complicando ainda mais a vida do presidente da república.
O "muso" do impeachment de Collor, o hoje senador Lindbergh Farias, que substituiu Delcídio do Amaral na liderança do governo na casa, é o "lindinho". José Sarney, finalmente, conseguiu ser tratado por "escritor". Alguém discordará de que o presidente da Câmara Federal, o peemedebista Eduardo Cunha, é um "caranguejo", que faz o Brasil andar para trás? E o presidente do Senado, Renan Calheiros, é o "atleta" da sobrevivência. O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, é o "nervosinho"? O fanhoso líder do PT, senador Humberto Costa, é o "drácula".
Mas a Odebrecht vai ter que se explicar sobre Jarbas Vasconcelos Filho, o herdeiro do pai, sedutor político pernambucano, apelidado de "Viagra".

Brasil: 12º em violência no mundo

Lúcio Flávio Pinto
O Sistema Integrado de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde registra apenas três mortes causadas por “intervenções legais” no Pará em 2014. Já no Anuário Brasileiro de Segurança Pública as mortes computadas somam 159. O SIM contém a informação oficial. O anuário utiliza dados coletados por meio da Lei de Acesso à Informação.
A discrepância pode ser verificada no Atlas da Violência 2016, levantamento realizado pelo Ipea, o instituto de pesquisa vinculado à Presidência da República. O levantamento, divulgado na semana passada, indica que as mortes causadas por ação policial (eufemisticamente abrigada no conceito de “intervenção legal”) continuam a ser omitidas por algumas instituições.
Para o SIM, foram 681 as mortes por “intervenções legais” em 2014. Para o anuário, a soma verdadeira é de 3.009 mortes causadas por ação policial. A diferença entre as duas estatísticas é de 441,85%.
A polícia cada vez mais violenta e letal acompanha a gravíssima situação do país. O número de mortes por homicídio foi de 59.627, considerados os óbitos causados por agressão e ação policial. A taxa de homicídios foi de 29,1 para cada 100 mil habitantes.
É o pior resultado da série histórica, medida pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em parceria com o FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública) desde 2004.
O resultado coloca o Brasil com o maior número absoluto de homicídios do mundo, levando em conta os dados do Observatório de Homicídios do Instituto Igarapé de 2013. Considerando o ranking do Banco Mundial, que inclui 154 nações, o Brasil ficaria entre as 12 com as maiores taxas de homicídio.
Homens de 15 a 19 anos são as principais vítimas de homicídios. Nesse grupo, mais da metade dos óbitos ocorrem por assassinato. As pessoas com 20 a 24 anos, também do sexo masculino, são as mais visadas depois, com 49%.
Para o Ipea, essa conjuntura prejudica “o processo de desenvolvimento econômico e social”, já que os jovens respondem pela maior parte da população economicamente ativa.
Agravando esse dado, há outra informação brutal: pessoas com 21 anos e com menos de oito anos de estudo têm probabilidade 5,4 vezes maior do que para quem tem a mesma idade com grau de instrução igual ou superior. Quem não consegue chegar à universidade tem 15,9 vezes mais probabilidade de ser assassinado.
Já os negros e pardos têm 147% a mais de chances de morrer vítimas de homicídios na comparação com brancos, amarelos e indígenas.
Este é o retrato do Brasil que é esquecido, omitido ou distorcido pela falta de atenção ao problema pela opinião pública nacional e, sobretudo, pelas autoridades públicas.
É um lado do país cada vez mais doentio, ameaçando degenerar para uma violência devastadora, independentemente dos seus rumos políticos e econômicos. O monstro da violência adquiriu autonomia no Brasil.